Controlar o caminhão?

A quase nove meses das eleições municipais, o que mais se vê por aí são possíveis candidatos em franca campanha. Eles saíram de todos os lados e dominaram as redes sociais. E, como a política atual é feita apenas de críticas, e nunca apontando uma solução ou ao menos um plano de governo ou de trabalho, os vídeos com discursos prontos estão a todo vapor. O povo mal curtiu e compartilhou uma gravação e a outra já está pronta para ser publicada e patrocinada. Durante toda esta semana, foi abordado neste espaço o “boom” das redes sociais e a falta de preparo da população e também da Justiça Eleitoral para a era digital, depois que os candidatos descobriram o poder que a internet tem na hora de decidir um pleito. A prova disso foram as eleições de 2018. Na verdade, não foi bem a descoberta dos candidatos e o poder da internet que definiram o pleito, mas as notícias falsas.

As fake news eram disseminadas a todo tempo, em frações de segundos, e muita gente, mas muita gente mesmo, que não tinha voto definido, acabou escolhendo determinado candidato por acreditar nas notícias falsas. O povo não estava preparado para a era digital e muito menos para as fake news, e os robôs que as disparavam aumentavam seu engajamento nas redes sociais. Diante da situação, do caminhão desgovernado que descia ladeira a baixo, a Justiça Eleitoral começa a “tatear” formas de controlar este “caminhão sem freio”. Entre as regras para as eleições deste ano está a criminalização da prática de notícias falsas. Pode ser preso e até ter a candidatura suspensa o concorrente que espalhar informações inverídicas sobre a campanha de adversários com o intuito de ganhar vantagem na disputa. 

O presidente Jair Bolsonaro até tentou evitar este tipo de punição, mas seu veto foi derrubado pelo Congresso, em junho do ano passado, e o Parlamento aprovou a pena de dois a oito anos de prisão para quem cometer essa prática, inclusive eleitores. Sem sombra de dúvidas, esse é um grande avanço. Afinal, se queremos mudanças, ela deve começar por nós. Se exigimos respeito, nós devemos respeitar o processo eleitoral e as leis. De nada adianta exigirmos o fim da corrupção e políticos exemplares se nós mesmos não somos exemplos, não nos preocupamos em exercer a nossa cidadania com responsabilidade. E incluído neste pacote de “exercer cidadania com responsabilidade” está, além de checar a notícia antes de compartilhá-la, avisar toda vez que uma pessoa compartilhar uma fake news. Ou seja, ter empatia e ajudar o próximo para que a situação não se repita.

O doutor em direito e promotor de Justiça em São Paulo Clever Vasconcelos, diz que uma das maiores dificuldades que a Justiça Eleitoral terá neste ano é a fiscalização, pois, em eleições municipais, a abordagem do político é muito próxima do eleitor. E aí entra mais uma responsabilidade para o eleitor: checar a veracidade da notícia antes de compartilhá-la, avisar quando uma pessoa compartilhar uma fake news, e fiscalizar para que a lei seja cumprida à risca, a fim de que aqueles que trabalharem para prejudicar o pleito sejam penalizados. O jeito é torcer para que, enfim, o caminhão seja freado e desça a ladeira com a velocidade estabelecida nas regras.

Related posts

Na lama 

Tem trabalhado 

Implacável