É por você que eu canto

Augusto Fidelis

Ontem à noite chovia, mas o sono demorou para chegar. Daí, lembrei-me de um episódio acontecido há bastante tempo. Foi assim: certa vez acordei de madrugada com uma cantoria lá fora, bem no rumo da minha janela. Meu coração disparou e subiu até a garganta. Emocionado, não sabia que atitude tomar. As vozes, acompanhadas de violão, insistiam: “É por você que eu canto”. Era a primeira vez que eu ganhava uma serenata, então, deveria ser muito gentil com os meus admiradores. Logo, tive uma ideia: a madrugada está fria, vou recebê-los e servir um chocolate quentinho, acompanhado de pãezinhos de batata com creme de alho.

Enquanto eu matutava, terminaram essa música. Aguardei um pouco mais para eu ter certeza do que se passava. Imediatamente, começaram outra: “Como é grande o meu amor por você”. Não tive mais dúvidas. Levantei-me, coloquei o meu roupão de seda chinesa e, com um largo sorriso, abri a janela. Um dos cantores, percebendo o meu equívoco, sinalizou-me que as canções eram para a moça que morava no andar de cima. Decepcionado, rubro de vergonha, fechei a janela, voltei para a cama e cobri a cabeça.

Esse episódio voltou à minha memória um tempo depois, no Divinópolis Clube, quando assisti à noite musical preparada pelo grupo Vozes em Seresta, com participação do Coral Santos Anjos, Grupo Acordes e Neac. No palco, o Coral Santos Anjos e o Grupo Acordes. A plateia tinha os olhos fixos neles, na expectativa da primeira canção, porém, a primeira melodia partiu do fundo do salão. Entrava em cena o grupo Vozes em Seresta, com a música “Violões em Seresta”. Passando pelo meio dos convidados, juntou-se aos que já estavam posicionados.

O desfilar das mais lindas músicas me fez remexer o baú de recordações. Lembrava-me disso e daquilo, de tantos momentos bons, de tantas pessoas queridas. Não demorou muito para que o grupo entoasse “É por você que eu canto”. Fiquei ali, boquiaberto, lembrando-me da noite em que eu imaginava ter ganhado uma serenata.  Vozes em Seresta colocou ainda no seu repertório “Como é grande o meu amor por você” e uma série de melodias de sacudir a alma.

Um nó não só apertava a minha garganta como me impedia de apreciar uma noite tão linda. No entanto, quem cai do cavalo não é obrigado a ficar estirado no chão, pode-se levantar, sacudir a poeira e andar a pé. Fiz justamente isso. Sintonizei-me com a boa energia do ambiente e passei a aplaudir com euforia. Terminado o espetáculo, os cantores se posicionaram na saída, para se despedirem dos convidados. Quando um deles me perguntou se eu havia gostado, a ficha caiu. Gente, desta vez as músicas eram realmente para mim, porque não percebi isso antes?! augustofidelis1@gmail.com

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