País sofre aguda crise institucional após delações

 

A notícia da delação premiada de Cláudio Melo Filho, ex-diretor de relações institucionais da Odebrecht, deixa a Nação parte desanimada e parte irritada com as relações espúrias de poder escancaradas em Brasília, nas últimas semanas.

Os meios políticos nacionais estão fortemente afetados pelo número de senadores e deputados federais envolvidos no crime de propinas e corrupção, o que vem reduzir a pequenos percentuais as pessoas éticas e confiáveis, ocupando cargos de alto nível no Poder Público federal.

Ao todo, 51 políticos de 11 partidos teriam recebido propina da Odebrecht, inclusive o presidente Michel Temer (PMDB-SP); o presidente do Senado Renan Calheiros (PMDB-AL); o ministro Eliseu Padilha; o ex-ministro do Planejamento, senador Romero Jucá; o senador Aécio Neves (PSDB-MG); o ex-secretário de Governo, Geddel Vieira Lima, e até o indicado para substituí-lo, Antônio Imbassahy (PSDB-BA).

Para o presidente do PSDB em Minas Gerais, deputado Domingos Sávio, todos que foram delatados devem ser investigados, pois “é muito importante que estas investigações continuem para poder separar o joio do trigo, tanto na política como no setor privado”.

— No entanto, é preciso ter prudência porque ocorreram doações legais devidamente declaradas sem envolvimento com corrupção e doações ilegais associadas à corrupção. Somente após a completa investigação e sentença do juiz Sérgio Moro, em quem confio e respeito, teremos a certeza de quem é culpado e quem não é — afirma o deputado.

Segundo o deputado federal Jaiminho Martins (PSD), a operação Lava Jato é atualmente o “grande xodó” do povo brasileiro e deve ser preservada.

— Apoio integralmente o juiz Sérgio Moro e todos aqueles que estão empenhados nessa operação – afirmou.

 

 

Agenda apressada

 

A delação do ex-diretor da Odebrecht mudou a rotina de Brasília neste início de semana, com reuniões apressadas durante a tarde e início da noite de domingo, centralizadas no Palácio do Jaburu, aturdido com as repercussões das informações vazadas da Operação Lava Jato.

Um pacote de oito medidas de ajuste fiscal, que estava em gestação há um mês, será posto em prática esta semana para geração de emprego e estímulo à economia “de forma imediata”, segundo o deputado Rogério Rosso (PSD-DF), líder do partido.

— A prioridade do governo do presidente Temer de fato é o ajuste fiscal, a recuperação da economia, a retomada dos investimentos — disse o deputado.

Ontem pela manhã, Michel Temer, em busca de aliados, reuniu-se com políticos da cúpula do PSDB no Jaburu, incluindo o presidente do PSDB, senador Aécio Neves (MG), e o senador Aloysio Nunes (SP), líder do governo na Casa, e deve indicar alguém desse partido para seu governo.

 

Crise econômica

 

Hoje, o presidente reúne-se com outros líderes para apresentar as propostas para combater a crise econômica e falar da importância de aprovar a reforma da Previdência. O presidente deverá concentrar esforços também na aprovação da proposta que limita os gastos públicos no plenário do Senado. A sessão, no Senado, está marcada para esta terça-feira.

Na visão de Domingos Sávio, as medidas econômicas são imprescindíveis para o Brasil e qualquer partido que estivesse hoje no governo “teria que adotá-las ou algo muito semelhante”.

— Ou o país estanca o déficit público crescente ou perde toda credibilidade e leva toda a Nação à falência com mais desemprego e mais sofrimento. A previdência pública é uma bomba armada com a contagem regressiva já em andamento. Se não for desarmada agora, explode no colo dos nossos filhos e netos. Só um irresponsável se recusa a discutir uma reforma da previdência, mas deixo claro que discutir uma reforma não significa aceitar tudo que o governo está propondo — destaca.

 

Crise institucional

 

Além desse sobressalto, Brasília vive às voltas com uma crise institucional entre os Poderes Judiciário e Legislativo, avolumada com a desobediência do presidente do Senado, Renan Calheiros, em relação à decisão liminar do ministro Marco Aurélio Mello, derrubada em seguida pelo plenário do Supremo Tribunal Federal.

Na opinião de Domingos Sávio, em resposta ao Agora, questionando sobre a crise institucional, disse que espera “haver moderação e respeito de lado a lado”.

— Creio que o Legislativo tem sido omisso em seu papel de legislar, deixando espaço para o Supremo exercer essa função, que não é dele (veja o recente caso de legalização do aborto até três meses) — pondera o deputado e acrescenta que “a crise é grave, mas a democracia é mais forte e sobreviverá”.

Para o deputado, o ambiente de constante e acirrada divergência política no Legislativo por parte do número excessivo de partidos e “sem nenhum benefício para a verdadeira democracia” aumentou a demanda ao Supremo para dirimir suas disputas internas.

Sobre as relações estremecidas entre Judiciário e Legislativo, Jaiminho Martins declarou:

— É lamentável que esteja ocorrendo uma crise desta magnitude. Infelizmente, o Judiciário voltou atrás, recuou. É difícil compreender essa decisão do STF em relação ao presidente do Senado, Renan Calheiros, e também esse joguinho de retaliações. Devemos fazer nosso trabalho, legislar, mirando naquilo que é bom para o país, não naquilo que, momentaneamente, possa causar crise entre os poderes. (FF)

 

 

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