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O grande encontro

by Portalagora

Flávio Ramos

 

Entro pelo portão de ferro ao acesso lateral do Jornal Agora que dá de frente para a avenida Primeiro de Junho. O coração está disparado porque acabei de receber a notícia que todos esperavam desde a eleição, que era a definição pela Justiça Eleitoral para diplomação e posse do prefeito com maior votação na eleição de 2016. Galileu Teixeira Machado estava confirmado como prefeito eleito.

Logo na entrada do Jornal Agora, dou a notícia da liberação de Galileu para Itamar de Oliveira, que logo foi dizendo:

– Flávio, não quero nem saber quem vai tomar posse. O meu lema é o seguinte: “Se hay gobierno, soy contra! Se no hay, tambien soy”.

– Mas, Itamar, você acabou de apoiar a eleição de Galileu, como você já está contra se ele ainda nem tomou posse? – retruquei.

E Itamar, com aquela voz rouca de quem põe medo, nem pestanejou:

– O Pinga-Fogo é a minha tribuna de liberdade e não há liberdade se não há dinheiro!

Ando um pouco mais e sinto o cheiro forte da tinta no papel. Ouço, ao fundo, o barulho da máquina rodando as primeiras páginas. Ah! O cheiro da tinta do jornal! Até hoje não entendo porque esse cheiro me entorpece o cérebro.

Juca Mariano, a quem substituí como colunista político diário do Jornal Agora, voltou a frequentar a redação. Silencioso e certeiro nas palavras, estava ao telefone.

Pedi à secretária Adrianinha para me avisar quando o comandante-chefe Pedro Magalhães de Faria terminasse a sua reunião com a equipe de distribuição do jornal.

Ao passar pela recepção, entrei na sala que fica ao lado e mais parecia uma sauna por causa da fumaça que tomava conta. Também pudera, numa mesma sala, sentados e tranquilos, estavam, com seus cigarros acesos, Walter Gruen e Odilon Santiago. Como sempre, Odilon ocupava o seu lugar num sofá com o tecido marcado pelas queimaduras do cigarro. Eu sempre admirei no Odilon, além da sua inteligência, a habilidade que tinha para fumar e manter a cinza praticamente intacta até chegar ao filtro.

– E aí, Walter Gruen, as medidas econômicas que o Michel Temer apresentou hoje vão salvá-lo na Presidência? – pergunto.

Se tem alguém que entende de tudo é o Walter. Tinha certeza de que meu questionamento ia provocar uma aula de macroeconomia. Não deu outra. Walter, que nunca foi muito otimista, mas sempre teve uma queda para ser governista, elogiou o minipacote do governo federal, mas previu que a crise política poderia levar, em 2017, o presidente Temer a renunciar e acontecer convocação de eleições indiretas. Walter Gruen foi mais longe ainda vislumbrando a possibilidade de terminarmos 2017 com uma Junta Militar governando o país. Cruz-credo! Achei a previsão da Junta Militar muito radical, quase irreal, em se tratando de um momento diferenciado vivido pelo mundo já que o povo, hoje, está muito mais politizado e participativo levando-se em conta as conexões que são permitidas rapidamente pelas redes sociais.

Cheguei ao jornal na hora certa. A redação estava recolhendo as colunas sociais para serem publicadas. Para minha sorte, chegaram, na mesma hora: Roberto Cruz, Sônia Hallack, Giovanni Lima, Edson Gonçalves. Nossa, que engarrafamento de colunistas sociais! O bom é que eu saberia tudo que estava acontecendo e a programação dos eventos de fim de ano. Afinal, não tem jeito melhor de você se informar sobre os acontecimentos da cidade que não seja pelas colunas sociais. O colunista social é um historiador que conta a história da cidade através das vidas das pessoas.

A fumaça dos cigarros do Odilon e do Walter se dissipou e, de repente, abriu-se a porta da sala que fica ao lado do telefone. Senti uma baforada de incenso que não deixa dúvida, Antônio Eustáquio Rodrigues estava na sala com as velas acesas em volta de todos os seus santos e santas de proteção.

Cheguei a cabeça na porta e cumprimentei o Antônio Eustáquio, que tem como maior paixão, além da família e do América, narrar jogos de futebol. Ele me pediu para entrar porque queria me mostrar um novo bordão para usar na hora da narração dos gols.

Ao sair da sala do Tonico, dei uma olhada para a mesa do café e, sentados tricotando uma boa conversa, estavam Zélia Brandão, Augusto Fidelis, Jorge Guimarães e Maria Cândida, que contava que Adélia Prado tinha sido convidada para ser a nova secretária estadual de Cultura, mas que ela não aceitaria de jeito nenhum a tarefa de ser Cristo em pau de goiabeira. Quem não estava muito satisfeita com a sujeira na mesa do café era a Neusa, bem conhecida pelo seu jeito de general.

Quase trombei no Marquinho Faria, que irrompeu na redação, apesar de estar mais zen hoje, pra reclamar do atraso da diagramação do Serginho. Zé Carlos, patrimônio imobiliário do jornal, lá da porta que dá acesso à escada do parque gráfico, me pergunta se o Cruzeiro tinha contratado um novo atacante. Não deu nem para dar a resposta porque o Marcelo Faria, sempre muito elegante, falou que em 2017 ele tinha certeza que o seu Galo ia ser campeão.

Cheguei para entregar este artigo na mesa da Sonia Terra, que, apesar de já saber tudo – tudinho que existe entre o céu e a terra –, queria o grande furo de reportagem para a capa do jornal. Terra estava muito satisfeita também com o texto que o Flávio Flora havia escrito contando a história da imprensa divinopolitana e o contexto do Jornal Agora nos mais de 100 anos dentro dessa história. Enquanto conversava com Sonia Terra, abriu a porta lateral da redação uma figura surreal, com capacete, óculos escuros e roupa colante. Era o David Raposo, que mais parecia um extraterrestre com sua roupa de ciclista. Ele também deixava sua tradicional coluna sobre o esporte amador e profissional de Divinópolis com suas insuperáveis Pitorescas.

Quem estava num computador, num cantinho, achando que ninguém ia perceber sua presença, era o Jotha Lee. Enquanto isso, o Walon Delano, dependurado no telefone, se preparava para fechar a notícia de mais um crime em Divinópolis.

Reparei que a incansável Jane, com seus quase 20 anos de jornal, colocava ordem na casa e conseguia achar mais um espaço para a publicidade que ia entrar na próxima edição e não poderia ficar de fora de jeito algum. Assustei um pouco foi quando a Ana Maria Perdigão entrou, esbaforida na redação, comemorando ter batido a meta de vendas de assinaturas e resolveu até comer um pedaço do bolo de fubá que tinha sido levado pela Diretora do Jornal Agora, Daniela Faria. Para falar a verdade, estava vendo a hora que a editora-chefe Gisele Souto ia reclamar da algazarra. Acho que ela só não fez isso porque não é todo dia que todos se encontram de uma vez.

Ao passar pelo portão de entrada do Jornal Agora, toda vez, não vejo ninguém dos que eu conheci no jornal esquecidos pelo tempo ou do outro lado do plano espiritual. Estão todos lá. Estão todos aqui. Juntos. Sempre estarão. Jornalista não morre, as palavras os eternizam. Chegar à redação do Jornal Agora é sempre um grande encontro.

Parabéns, Jornal Agora, por escrever e eternizar 45 anos de história de Divinópolis.

 

Itamar

Walter

Pedro

Adrianinha

Odilon

Roberto Cruz

Sônia Hallack

Giovanni Lima

Edson Gonçalves

Sonia Terra

Marquinho Faria

Zé Carlos

Marcelo Faria

Wallon Delano

Flávio Flora

Juca Mariano

Antônio Eustáquio

Neusa

Maria Cândida

Augusto Fidelis

Zélia Brandão

Jorge Guimarães

Jotha Lee

Daniela Faria

Gisele Souto

Serginho Arruda

David Raposo

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