Razões que a própria razão desconhece

Batendo Bola

José Carlos de Oliveira

jcqueroviver@hotmail.com.br

 

Durante anos, décadas mesmo, o futebol brasileiro era olhado pelo mundo da bola como algo a ser copiado. A irreverência e principalmente técnica de nossos craques faziam a diferença em campo e era motivo de inveja para nossos adversários. Era algo que os gringos não possuíam. Nosso jogo de cintura os deixava malucos.

O irreverente Mané Garrincha, aquele das pernas tortas, costumava dar uma explicação exata de como era jogado o futebol naquela época. O inesquecível craque tratava a todos os seus marcadores por João, tamanha a semelhança entre eles, no que tange ao modo de marcá-lo. Bastava o Mané gingar para lá e para cá e lá ficavam eles sentados.

Assim era o nosso futebol e era desta maneira que deveria ter continuado até os dias de hoje. Mas não. Apareceram os gênios da bola, os profetas do acontecido, para tratar de mudar toda nossa história. Eles (os que se achavam os donos da verdade) cismaram que o jogador brasileiro precisava copiar os europeus, nossos atletas tinham que aprender a marcar, estudar tática e outras coisas do gênero.

E deu no que deu. Descaracterizaram o futebol nacional. De uma hora para outra, como numa passe de mágica, jogador com boa técnica já não servia mais para os grandes times. O cara tinha que ter corpo e tamanho para se dar bem no futebol. Foram-se embora os jogadores diferenciados, aqueles que sabiam como tratar uma bola, a chamavam pelo nome, tratavam-na de você, com carinho, para entrar em cena os brucutus, jogadores sem técnica nenhuma, mas que tinham o que interessava aos “entendidos da bola”: eram obedientes taticamente e voltavam para marcar, em detrimento da arte, nossa maior característica até então.

Atacar o adversário já não era e ainda não é o mais importante. Saber defender é a única coisa que interessa a estes especialistas. E o resultado é o que estamos vendo hoje. Nosso futebol caminha a passos largos para o fundo do poço. Hoje nossos times, e até mesmo a Seleção Canarinho, são presas fáceis para os europeus. Uma verdade que dói até a alma de todos que realmente amam e querem o melhor para o futebol nacional.

Agora temos que acordar para a realidade e assumir de uma vez por todas que aquele desastre dos 7 a 1 do Mineirão já era para ter acontecido há mais tempo, e vai se repetir ainda muitas vezes se não encaramos a realidade de frente.

A hora é de voltar ao passado, sim. Temos que valorizar, em primeiro lugar, o que temos de melhor, nossa técnica, para depois pensar em estudar tática de jogo. O que fugir disto será o mesmo que dar um tiro no escuro.

 

MANGUEIRAS BRASIL

 

“Velhinhos” são deixados de lado

 

Se tem uma coisa que contribuiu para levar o futebol brasileiro parra o fundo do poço, foi a mania que ainda temos de transformar simples mortais em deuses, tentando perpetuar no poder técnicos que porventura foram campeões em determinadas épocas da história.

Mas o desastre do Mineirão doeu tanto na alma do brasileiro, que nossos dirigentes enfim acordaram para a realidade, e hoje já não dão tanta bola para nomes, preferindo apostar no novo, em alguém que possas oferecer algo mais ao nosso futebol.

É assim que técnicos antigos são deixados de lado, nomes como Vanderlei Luxemburgo, Carlos Alberto Parreira, Luís Felipe Scolari, e tantos outros, enfim saem de cena para dar vez a treinadores mais novos, com nova mentalidade e espírito de liderança.

Cedo ainda é para saber se dará ou não certo. Mas de uma coisa todos temos certeza: algo tinha que ser feito e com urgência. A hora é de deixar o passado para trás e apostar no novo. Mesmo porque, como dizem alguns, quem gosta de passado é museu.

 

Valorizar a base

 

E tem algo mais a ser acrescentado. Estes treinadores que agora surgem no mercado, caso do nosso Leston Junior, têm uma coisa que os medalhões se esqueceram de mostrar: a coragem de apostar na técnica e na genialidade de nossos jogadores.

A nossa esperança é que daqui para frente, nas peneiradas dos grandes clubes, o garoto não seja reprovado apenas por ser franzino, “fracote”. Que ele seja analisado, estudado e contratado por causa de seu talento e não de seu porte físico. Esta é a salvação do futebol brasileiro. O resto é conversa para boi dormir.

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