Especial 12.000: “Quem diz a verdade, desconhece o medo”

Sonia Terra e Flávio Flora

A personalidade escolhida para marcar a doze milésima edição do Jornal Agora, foi a de Jovelino Rabello, cujo legado é um estímulo para superação de crises e dificuldades com perseverança, visão futura e ousadia.

“Homem obstinado, nasceu para criar o desenvolvimento e a riqueza para poder distribuí-la com os menos afortunados. Todos sem exceção com ele ganhavam, e de simples operários, vários se tornaram grandes empresários”, testemunhou seu filho Reni Rabello, em solenidade da Câmara, no centenário de nascimento, em 1989.

Por mais de 60 anos, Jovelino jamais conheceu um só dia de férias. No entanto, não acumulou riqueza. Possibilitou aposentadorias para mais de cinco mil trabalhadores, mas ao morrer, nem pensão deixou. Enquanto esteve ativo, Divinópolis não conheceu o desemprego ou crises econômicas. Em formato de entrevista virtual, o Agora revela um pouco mais do legado desse homem notável.

FlávioSenhor Jovelino Rabelo, há uma praça com seu nome no Centro da cidade, mas muitos não conhecem sua importância para o desenvolvimento de Divinópolis. O senhor chegou por estas bandas, jovem ainda, e se juntou aos “doidos” criadores do município, pelos anos de 1914-15. Como era a vila?

Jovelino— Um pequeno arraial com poucas casas e muita maleita, não tinha água, não tinha luz e não tinha estrada de automóvel. Só tínhamos a estrada-de-ferro (…) só tinha aquela igreja do Divino, lá em cima; aquele largo ali; e uma ruazinha que descia para a estação antiga de Henrique Galvão (…) Já estavam em construção a nova estação, a Câmara e o Hotel Divinópolis, mais a casa do Pedro X Gontijo e o Leão da Esquina.

Sonia — Foi o senhor que loteou a Praça Municipal? Aquele quarteirão formado pelas ruas Rio de Janeiro e São Paulo e as avenidas Independência (hoje Antônio Olímpio de Morais) e Primeiro de Junho.

— Divinópolis mostrava condições de crescer, e a preferência começava a ficar para essa parte da cidade, que o Pedro Gontijo chamava de Praça Municipal. Aprovamos a lei, mas foi Pedro quem executou o parcelamento e as vendas, quando foi prefeito. O município precisava de dinheiro para a nova prefeitura que se instalara. Desse espaço só resta o quarteirão fechado da rua São Paulo, preservado pelo Antônio Martins. Os vereadores me honraram muito dando meu nome à Praça. É para lembrar do meu amor por Divinópolis (riso).

Flávio — O que o senhor diz sobre o estado de calamidade vivido pelo município? O que fazer em tempos de crise? Temos salvação?

— Se eu disser que tempos de crise são tempos de oportunidades, vocês vão dizer que isso não é novidade. De fato não é. Quase todos os meus empreendimentos surgiram em momentos de aperto, de escassez. A [siderúrgica] Mineira foi um dos planos mais bem feitos que eu já fiz em minha vida. Nas crises, é preciso ser criterioso e ousado, “maluco mesmo”, e disposto a lutar por um objetivo. Crises são cíclicas, mas têm inclinação para se instalar e ficar. É preciso reagir.

Sonia — Por que não se fazem mais homens da sua fibra e de outros contemporâneos, como X. Gontijo?

— Acho que cada tempo tem seu personagem, mas homens “doidos” como antigamente parece que não têm aparecido. Acho que sou um dos últimos de Divinópolis. Enquanto houve um maluco, que só pensava em fazer coisas para Divinópolis, a linha foi de ascensão… É preciso que Divinópolis arranje outro maluco.

Sonia — Como o senhor vê a força das redes sociais, desmascarando a politicalha e obrigando-os a recuarem? É hora do bom e velho jornalismo revigorar-se para contrapor aos embusteiros?

— Não sei se serve para os dias de hoje, mas quando apoiei o Zé Puntel para montar a rádio Cultura, 70 anos atrás, eu confiei no conhecimento técnico que ele tinha, mas três coisas eu lhe pedi: nunca humilhar ninguém, ouvir com paciência para decidir corretamente e dizer a verdade. Quem diz a verdade desconhece o medo. Vai ficando cada vez mais difícil para os políticos esconderem suas mazelas. Hoje temos milhares de “X Gontijos” e isso obriga o jornalismo a uma reciclagem. Hoje tudo é imediato e veloz; tem informação para tudo.

Flávio — Que conselhos daria para os atuais personagens da cena política, que por falta de preparo têm trocado ofensas em vias de fato, na Casa do Povo?

— Nenhuma vitória pode ser comemorada à custa da derrota alheia. Só se regozija de uma conquista quando ela é fruto do trabalho sem prejuízo de outros. Mas guardo comigo um conselho de meu pai: “Com os amigos devemos estar bem, com os inimigos devemos ficar”. Passo para vocês. A vingança é a pior forma de defesa.

 

Jovelino recebe o deputado federal Benedito Valadares e o deputado estadual  Juscelino Kubitschek (1949)

(Foto: Arquivo Público de Divinópolis)

 

 

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