Violência interpessoal cresce e mata jovens em Divinópolis

Flávio Flora

A violência interpessoal é apontada como principal razão para a morte prematura de jovens de 10 a 19 anos, no Brasil. Esta é uma das informações contidas no estudo da Organização Mundial de Saúde (OMS) ‘Global AccelerationAction for the Health ofAdolescents/ Gaaha’ (Ação Global Acelerada para a Saúde de Adolescentes, em tradução livre), publicada ontem. O estudo não avalia países individualmente, mas áreas econômicas do planeta, situando o Brasil na categoria de “países de renda baixa-média das Américas”.

Cerca de três adolescentes morrem por dia no mundo, o que dá algo em torno de 1,2 milhão de pessoas por ano. Próximo de 43% dessas mortes ocorrem em países de baixa-média renda nas Américas e são atribuídas à violência interpessoal. Muitas mortes também estão ligadas a acidentes de trânsito.

Entretanto, há outras causas diversas, que se encaixamna situação do Brasil, onde as principais causas entre adolescentes brasileiros de 10 a 15 anos são (nesta ordem): a violência interpessoal, os acidentes de trânsito, afogamento, leucemia e infecções respiratórias. Para os da faixa de 15 a 19 anos, são a violência interpessoal, acidentes de trânsito, suicídio, afogamento e infecções respiratórias.

Adolescência descuidada

No resto do mundo, as cinco principais causas de morte entre jovens de ambos os sexos, de 10 e 19 anos são: acidentes de trânsito, infecções respiratórias (pneumonia), suicídio, infecções intestinais (diarreia) e afogamentos.

O conceito de violência interpessoal empregado no documento engloba desde a agressão relacionada às gangues e ao narcotráfico ao feminicídio, incluindo “assassinatos, agressão, brigas, ‘bullying’, violência entre parceiros sexuais e abuso emocional”, segundo assinala o estudo.

Pelos dados da Gaaha, desagregados por sexo, as estimativas apontam que, no mundo inteiro, meninos de 10 a 19 anos morrem em acidentes de trânsito, por violência interpessoal, afogamento, infecção do sistema respiratório e suicídio. As meninas da mesma faixamorrem por infecções do sistema respiratório, suicídio, infecções intestinais, problemas relacionados à maternidade e acidentes de trânsito.

Da análise, a OMS conclui que essas tragédias poderiam ser evitadas se os países investissem mais em educação, serviços de saúde e apoio social:

— O período da adolescência é um momento particularmente importante para a saúde, porque definirá hábitos que terão impacto na qualidade de vida pelas próximas décadas. É nessa época que a inatividade física, a má dieta e o comportamento sexual de risco têm início — ressalta Flávia Bustreo, diretora-geral assistente da OMS, criticando o fato de adolescentes estarem completamente ausentes dos planejamentos de saúde nacional por décadas.

Armas de fogo

O Mapa da Violência no Brasil, publicado pela Faculdade Latino-Americana de Ciências Sociais (Flacso), sobre “Homicídios por armas de fogo (HAF)”, produzido por Julio Jacobo Waiselfisz, especialista em Segurança Pública, não mostra outra realidade menos preocupante:

— A principal vítima da violência homicida no Brasil é a juventude — afirma o autor brasileiro, que estudou o período de 2012 a 2014.

Nesse levantamento, foi observado que jovens de 15 a 29 anos de idade representavam aproximadamente 26% da população nacional, mas a participação deles no total de homicídios por armas de fogo chegava a 60%, algo desproporcional.

No Mapa brasileiro, são detalhados os 150 municípios com as maiores taxas médias de HAF, e Divinópolis não aparece; mas, na listagem de Minas Gerais está em 85o lugar com uma taxa média de 13,8 (por 100 mil).

Em Minas, os 10 municípios que mais registraram HAF foram: São Joaquim de Bicas (taxa de 70,8), Betim (50,0), Ribeirão das Neves (43,6), Mateus Leme (43,2), Igarapé (43,1), Juatuba (43,1), Governador Valadares (40,5), Contagem (40,2) e Paracatu (38,3).

Os dados do Mapa da Violência do Brasil apresentam similitudes com o da Ação Global Acelerada para a Saúde de Adolescentes, da OMS, e com a realidade do dia a dia do município de Divinópolis, que já ostenta 24 assassinatos este ano, cinco dos quais ocorridos com jovens desde a última semana, entre eles com uma moça.

O que fazer

O documento da Gaaha sinaliza que é possível ajudar a evitar essas mortes precoces, por meio de políticas públicas, como, por exemplo, a implementação de leis e campanhas de conscientização pelo uso do cinto de segurança.

Entre as políticas básicas são citados os programas de orientação sexual na escola, aumento da idade mínima para consumo de álcool, obrigatoriedade do uso do cinto de segurança nos automóveis e de capacetes para ciclistas e motociclistas; redução do acesso a armas de fogo, aumento da qualidade da água e melhoria da infraestrutura sanitária.

Fazer mais investimentos e dar atenção especial às pessoas nessa fase da vida, onde grandes frustrações e incertezas despontam, é outra sugestão do estudo: “jovens normalmente tomam responsabilidades de adultos como cuidar de irmãos menores, trabalhar, ter de abandonar os estudos, casar cedo, praticar sexo por dinheiro, simplesmente porque precisam dar conta das necessidades básicas de sobrevivência”, destaca o documento da OMS.

Audiência

Em Divinópolis, ocorre nesta quinta-feira, uma audiência pública na Câmara Municipal para analisar a situação local e buscar possíveis soluções para reduzir a insegurança urbana e rural. A iniciativa é do vereador Sargento Elton (PEN), presidente da Comissão de Direitos Humanos. A sociedade divinopolitana está assustada, especialmente, a moradora nos bairros e zona rural.

Related posts

Casal é encontrado morto com marca de tiros no Centro de Divinópolis

Santo Antônio do Monte: criança de um ano morre em acidente na MG-429

Polícia Civil investiga suposta agressão à aluna em Perdigão