Especial 1º de Junho: “Jesus é o Grande Cidadão de Divinópolis”

 

 

Flávio Flora 

Na inauguração do entroncamento ferroviário de Henrique Galvão, no distrito do Espírito Santo, em dezembro de 1910, o farmacêutico Pedro X Gontijo surpreendeu a todos lançando sua campanha de emancipação, entusiasmado que estava com as novas possibilidades. O arraial passava a ter ligações com Belo Horizonte, São João del-Rey e Rio de Janeiro (capital federal). 

Aproveitando as festividades natalinas, dirigiu “cartão-convite”, por duas vezes, aos chefes de família mais influentes para tratar do assunto. “Mesmo resultado, a mesma desilusão”: ninguém compareceu. 

— Diziam que eu era doido e encerravam o assunto — conta X Gontijo, destacando que o vigário, “um homem culto”, até fazia campanha contra. 

Ninguém queria 

Diante das dificuldades, a estratégia foi mudar o vigário, substituindo-o pelo padre Matias Lobato (que aderiu à campanha), e trazer à causa seu amigo advogado e dentista Francisco Ribeiro de Carvalho, de Lavras. Os três começaram a trabalhar: requerimentos, ofícios, contatos políticos, homilias e presença na Assembleia Legislativa de Minas Gerais, etc. 

O advogado Chico Ribeiro, com boas relações na capital, articulou reuniões com o governador Júlio Bueno Brandão para mostrar as potencialidades futuras do arraial agora servido pelas ferrovias. Mas não conseguiam obter posicionamento favorável. 

— O Presidente conservou-se esfingético, silencioso, embora com gestos corteses. Saímos como entramos — relata Xis, sobre a terceira audiência, presente também o juiz de paz Antonio Olympio de Moraes, quando eles esgotaram as suas argumentações. 

A força oculta  

Naquela manhã gelada de maio de 1911, a luta se tornara perdida. Mais difícil do que convencer os moradores a apoiar a criação do município, era remover a oposição ferrenha e bem sustentada do deputado Lamounier Godofredo (de Itapecerica) e do senador Viana (de Abaeté), que desclassificavam a comissão, taxando-a de irresponsável e ridícula. 

— Nesse grave momento da vida de Divinópolis, apostrofei ao Sublime Rabino da Galileia, para que Ele criasse o Município e fosse o seu primeiro Grande Cidadão. E a criação do Município começou a girar em torno de uma sequência de paradoxos — revelou Xis, muitos anos depois, em uma solenidade do cinquentenário. 

Uma “força oculta” estava agindo… No segundo turno da votação, vigilante e incansável, Pedro X respondeu corajosamente aos ataques com a desestabilização das forças contrárias, conseguindo adesão parlamentar de peso para a causa: do senador Camilo de Brito (de Belo Horizonte) e dos deputados Alcides Gonçalves, Ferreira de Carvalho e Nelson de Senna. 

Convite aceito 

A pesada mobilização, no entanto, não conseguiu vencer o impasse parlamentar – o arraial não tinha condições de se emancipar – e o projeto de lei foi devolvido ao Executivo sem contemplar o velho distrito. 

A derrocada da Comissão parecia iminente, mas Pedro X e Chico Ribeiro, sem consulta prévia e como ato final, agendaram uma audiência emergencial com o governador Júlio Bueno Brandão, em nome do Coronel Francisco Machado Gontijo, obrigando este a colocar todo o seu poder político no processo, numa ousada e arriscada armação que, ao final, deu certo. 

Em 30 de agosto de 1911, saiu publicada, no jornal Minas Gerais, a Lei Estadual 556, criando o município de Henrique Galvão, alterado no ano seguinte para Divinópolis. 

— Houve ou não houve intervenção do Alto? O Sublime Rabino aceitou ou não aceitou o convite? Divinópolis, portanto, não é governado no meio; ele é governado de cima para baixo, e é bobagem certos governos municipais quererem acabar com Divinópolis, com suas administrações nefandas. Jesus é o Grande Cidadão de Divinópolis que é governado de cima para baixo — registrou X Gontijo em seu Epítome da História de Divinópolis (1962). 

 

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