Datas de aniversário

 

Dia 27 de janeiro de 2013, uma madrugada que até às 3h17 era como outra qualquer. Mais de mil jovens se divertiam em uma boate, na cidade de Santa Maria, no Rio Grande do Sul, na qual 18 deles comemoravam seus aniversários com os amigos. A maioria era estudante. Estavam cheios de vida,  planos e sonhos. Um novo ano começaria para muitos. Mas a imprudência enraizada no Brasil matou sonhos, tirou sorrisos e plantou a desesperança. Aquela madrugada, que deveria ser de festa, foi tomada pelo terror quando um equipamento pirotécnico foi aceso durante um show naquela boate, que estava repleta de irregularidades. Poucos minutos depois, jovens eram pisoteados, outros estavam com suas peles dependuradas devido às queimaduras causadas pelo incêndio, outros mortos por envenenamento – a espuma queimando produziu um gás tóxico –, banheiros lotados de corpos. O saldo de tamanha negligência? 242 pessoas mortas, sendo 90% com idade entre 18 e 30 anos.

Em seguida ao desespero, o silêncio. De acordo com relatos de quem esteve na cena, às 4h45 os gritos cessaram. Era possível apenas ouvir os celulares tocando. Do outro lado da linha, mães, pais, familiares e amigos desesperados. Na última sexta-feira, a tragédia da boate Kiss completou 10 anos. Dois dias antes, no dia 25 de janeiro, a tragédia de Brumadinho completou 4. Catástrofes diferentes, mas unidas em um único ponto: a impunidade, o convite para que mais tragédias aconteçam no Brasil. Anos depois, ambas caíram no esquecimento. São lembradas apenas nestas datas, quando completam mais um ano. Do contrário, a vida segue. Sim. Por mais cruel que seja, a verdade é que, de um lado, os familiares e amigos ainda convivem com a dor e a revolta de terem que lidar com a impunidade todos os dias. Precisam lidar com a saudade de quem se foi, de forma abrupta. Era só mais uma noite de diversão, mais um dia de trabalho. Mas, pela ganância, 242 vidas foram tiradas naquele 27 de janeiro e outras 270 naquele 25 de janeiro. 

Que o Brasil é o país da impunidade e que tragédias caem no esquecimento todos já estão cientes. O que continua angustiando é o fato de o povo lutar por pautas que nem ele mesmo sabe. Defender políticos que trabalham para que tudo permaneça exatamente como está e não cobram mudanças efetivas. Não lutam por algo que de fato é importante, como a mudança do Código Penal Brasileiro. Não cobram mais rigor e fiscalização das leis. Não cobram de fato o fim da corrupção e se contentam com vídeos e discursos bonitos. Muita gente pode não saber, mas em ambos os casos – e de muitos outros espalhados pelo país – faltou fiscalização, multa e cumprimento da lei. Em outras palavras, mais uma tragédia anunciada. E, assim, o Brasil segue cego, à espera da próxima. Enquanto o cenário seguir, mais vidas serão interrompidas de forma abrupta e cruel.

 

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