O ‘Bandido Candidés’ e seu bando

Retomando as narrativas históricas, lá está o famoso episódio da Guerra dos Emboabas. Tal evento ocorreu no século XVIII, entre 1707 e 1709, aqui em Minas Gerais, e foi um conflito armado entre bandeirantes paulistas (sempre eles) contra um grupo heterogêneo formado por portugueses da região (metropolitanos) e migrantes de outras partes do Brasil.

?O motivo do conflito, para variar, foi a descoberta de novas jazidas de ouro na região de Minas e os paulistas reivindicavam a exclusividade para explorá-las. Desta forma, os paulistas apelidaram os intrusos a serem combatidos de “emboadas”, significando “estrangeiros”, conforme o Tupi-Guarani que ainda era a língua hegemônica do país.

?O que a Guerra dos Emboabas tem a ver com Divinópolis?

?(…)

?Pois bem. Fugitivos daquela guerra vieram e se instalaram na região, entre os rios Pará e Itapecerica – quase uma “mesopotâmia” mineira. Imaginavam eles até que estivessem em uma “ilha”, portanto, um bom lugar para se esconder e se abrigar.

Esse grupo – considerados “bandidos” – era chefiado por Manuel Fernandes Teixeira. Onde Manuel e seu “bando” se instalaram havia uma comunidade originária da nação Caipó e cuja tribo era a Candidés, a qual ocupava aquela margem do Itapecerica.

Tais indígenas receberam amistosamente os recém-chegados, de tal sorte que conviveram bem durante anos, sendo exato que Manuel até ficou conhecido pelo apelido de “o Candidés”, extensivo a todos seus liderados.

?Foi graças a este acolhimento dos Candidés que o “Candidés” Manuel e seus fugitivos puderam ter alguma tranquilidade para se estabelecerem, tendo em vista que havia, desde 1710, uma ordem (Intimação) do Governador das Minas, Antônio de Albuquerque Coelho de Carvalho, declarando o bando de Manuel como “proscritos voluntários”, ou seja, deveriam todos eles se afastarem de Minas Gerais. Bandidos e bandidos pelo governador.

?Esta situação de “clandestinidade” perdurou até 1730, quando finalmente Manuel foi anistiado, determinando assim as possibilidades de uma instalação definitiva.

Sete anos depois, sem temor algum, é construída uma capela em homenagem a São Francisco de Paula e ao Divino Espírito Santo. Estavam aliviados e “pagando” uma promessa pelo fim das perseguições. Puderam até buscar o restante das famílias, aquele restante ainda “escondido” em Barbacena.

?Estava festivamente fundado o povoado de “Paragens do Itapecerica”.

Em 1767, considerando-se a proteção dos padroeiros da região, se constrói uma Igreja para ambos.

Três anos depois, o agradecido Manuel Fernandes Teixeira vai ao cartório de Mariana e faz uma escritura oficializando a doação para a Igreja: “quarenta alqueires de terras e um lote de casas” (sic).

Portanto, Divinópolis nasceu em torno de uma capela construída em um terreno doado por um líder considerado “bandido” e com apelido de índio, o “Candidés”.

Para quem acha que “bandido bom é bandido morto”, parece ser uma boa lição.

 

 

(Dedicado ao amigo Léo, do varejão)

 

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