Se tem algo que a humanidade definitivamente não estava preparada era para o boom das redes sociais. Com a popularização das mídias digitais, houve uma crescente necessidade de exposição. As pessoas querem mostrar a todo custo o que têm, como se divertem, como viajam e, claro, quem tem mais Quem tem o melhor carro, a maior casa, o look mais chamativo, quem é mais bondosa, a mais honesta, que lê mais livros… Junto a essa competição ainda tem-se o “tribunal da internet”, em que as pessoas são julgadas, massacradas ou inocentadas por seu posicionamento. Basta apenas publicar um vídeo para agradar ou desagradar quem está do outro lado da tela. A grande questão é como isso afeta o coletivo, adoece pessoas e o pior: expondo crianças e colocando-as em perigo.
A lei da sobrevivência agora é lacrar na internet, não importa o conteúdo ou quem esteja no conteúdo. O crucial é ganhar likes e viralizar. Mesmo que isso custe expor a imagem de quem, por obrigação, deveria ser protegida. O art. 227 da Constituição Federal prevê que cabe à família assegurar à criança diversos direitos, entre eles o lazer, a dignidade, a liberdade, colocar a salvo de qualquer exploração e outros. Ou seja, é dever dos pais garantir aos filhos todos os meios necessários para o seu pleno desenvolvimento. Mas, quando o assunto é internet, vale uma reflexão sobre o assunto. É preciso lembrar que, ao publicar imagens ou vídeos nas redes sociais, os pais perdem o controle sobre o conteúdo divulgado, uma vez que não há privacidade, com grande risco de essas informações serem utilizadas para outros meios. Cabe aos pais analisarem se as imagens e informações que publicam nas redes sociais sobre seus filhos os colocam em situações constrangedoras, vexatórias ou perigosas.
Em um mundo onde a lei é “lacrar” na internet, talvez tenha chegado o tempo de dosar, de parar, de refletir, sobre as consequências que tudo isso tem trazido, principalmente, os prejuízos para aqueles que deveriam ser protegidos. Os alertas já foram dados por todos os lados. O adoecimento mental em decorrência da exposição ao universo on-line já está comprovado. Profissionais apontam para os seguintes resultados: ansiedade, depressão, sensação de isolamento, comportamento agressivo, esgotamento e obsessão com o corpo, além de alterações na qualidade do sono, hábitos compulsivos, menor desempenho acadêmico ou profissional e prejuízo nos relacionamentos interpessoais. Talvez tenha chegado o momento em que lacrar não seja mais importante. É preciso deixar a competição de lado. A proteção precisa falar mais alto. É tempo de deixar o “tribunal da internet”, viver a vida real, com todos os seus sabores e dissabores que ela traz. A realidade nos espera.
