CREPÚSCULO DA LEI – Ano V – CCLI

Os malditos da terra

“Estou com o corpo de minha avó aqui no sofá. Ela foi assassinada na nossa frente!”
Foi assim que Jurandir Pacífico recebeu a notícia da morte de sua mãe, Maria Bernadete Pacífico, Mãe de Santo, líder guerreira do Quilombo Pitanga dos Palmares, em Simões Filho, região metropolitana de Salvador-BA.
Era quase oito horas da noite. Os malditos chegaram de motocicleta. Dois. Entraram no terreiro de Mãe Bernadete, de capacete e a mataram na frente dos três netos. Muitos disparos, muita covardia e muita crueldade. Foi encomenda.
O filho de Mãe Bernadete, Flávio Pacífico dos Santos (“Binho”) já havia sido assassinado por outros malditos. Em 2017. Mãe Bernadete lutava por justiça. Foi morta também. Os motivos levam a um tal “empreendimento” envolvendo um aterro sanitário que Mãe Bernadete teria conseguido embargar – Águas Claras Ambiental, do Grupo Solvís Essencis.
Desde então Mãe Bernadete vinha sendo ameaçada. Sempre assim. Os malditos matam ou mandam matar. Como tem “malditos assassinos” de lideranças e nesse país. Ser líder de Direitos Humanos no Brasil é “pedir para
morrer”.
Malditos assassinos. Covardes!
Nos últimos quatro anos foram mortos quase 200 líderes,
defensores e defensoras de Direitos Humanos no Brasil. Para o aplauso de alguns canalhas da política.
Os últimos quatro anos corresponderam ao governo genocida, fruto do golpe de 2016.

Conforme estudos das organizações TERRA DE DIREITOS e JUSTIÇA GLOBAL, a pesquisa aconteceu sobre registros entre 2019 e 2022.
Foram apontados 1.171 casos de violência, sendo 169 assassinatos e 579 ameaças. Os casos estudados demonstram o uso da violência utilizada para impedir a reivindicação e a defesa de direitos humanos, quase sempre vitimizando pessoas ligadas à pequena propriedade rural, indígenas e quilombolas.
Malditos assassinos.
Bruno Pereira, Dom Phillips, Fernando Araújo dos Santos, Paulo Paulino Guajajara são algumas das vítimas. Os (malditos) assassinos quase sempre usam armas de fogo (63,3% dos casos) e também gostam de torturar suas vítimas. Bruno Pereira e Dom Phillips, por exemplo, foram torturados e queimados vivos.
Qualquer investigação leva indícios às ilegalidades do garimpo, mineradoras, desmate e comércio de madeira e, claro, agromáfia.
O governo passado, composto por milicianos e fanáticos pentecostais, elegeu indígenas, quilombolas, comunidades tradicionais e sem-terra como inimigos centrais.
Deixaram a violência descampar contra eles.
Mãe Bernadete levou 12 tiros. Morte filmada.
Malditos assassinos.
Que Mãe Bernadete seja acolhida pelos orixás. Salubá
Nanã.

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