Editorial: ‘Sacos vazios’

 

É triste ver, mas a sociedade do espetáculo acostumou-se ao raso. Infelizmente, a humanidade tem mergulhado cada vez mais em piscinas rasas, e o pouco contenta. Na atualidade “tudo o que reluz definitivamente é ouro”. Uma palavra bonita aqui, outra ali, uma comissão montada acolá, um projeto de lei para falar que se está fazendo alguma coisa, e pronto, tudo está resolvido. E, a vida segue o seu rumo, na mais absoluta normalidade. O brasileiro trabalhando de sol a sol para sustentar os engravatados em seus gabinetes com ar condicionado, que ganham muito, diga-se de passagem, têm todos os privilégios possíveis e impossíveis, mas que no fim das contas são apenas “sacos vazios” cheios de discursos fascinantes. Eles até tentam negar, até enganar com suas palavras bonitas, porém a verdade – e isso qualquer Portal da Transparência mostra – é que os políticos brasileiros não se intimidam quando o assunto é se esbaldar com os recursos públicos. O nome pode até ser outro, podem até chamar de “nova política”, mas se for um pouco além do que as redes sociais mostram, é que de novo não tem absolutamente nada. Não passa do que poderia ser chamado de “Política 2.0”. 

Frases decoradas, palavras bonitas, gestos emblemáticos, que não passam do mais puro e cristalino marketing. Quando se apagam as luzes, ou melhor, se abaixam as câmeras, não há quase nada, ou nada feito. Quando se apagam as luzes os problemas permanecem no mesmo lugar. Falta saúde pública, educação de qualidade, distribuição de renda, segurança pública, e por aí vai. A lista é interminável. Acostumados ao pouco, ao raso, e mergulhados em piscinas rasas, os próprios brasileiros “financiam” este modelo de política que é modernizado no país de tempos em tempos. Este modelo, que na verdade apenas se adapta ao que a humanidade exige. Mas e aí, quem está errado? O político de fazer ou o povo acreditar? De acordo com a ‘Teoria de Darwin’: “Não é o mais forte que sobrevive, nem o mais inteligente, mas o que melhor se adapta às mudanças”. Talvez, olhando atentamente para esta teoria não seja tão difícil fazer um paralelo com a política brasileira. 

Se a população prestasse atenção aos detalhes, e não se contentasse com o pouco que é oferecido pelos seus representantes, talvez conseguiria enxergar que o ciclo ao qual o país acostumou-se com o passar dos anos foi o de adaptação. Passa ano, entra ano, vem uma polêmica, como por exemplo, do rompimento das barragens da Vale em Mariana e em Brumadinho, o povo revolta-se, os políticos reagem, logo montam uma comissão, mas no fim, quando as câmeras abaixam e as luzes se apagam tudo volta ao normal. O povo segue trabalhando, sustentando este modelo, e vivendo de ilusão. Afinal, no raso, na sociedade do espetáculo mais vale um discurso do que uma ação. Quando as luzes se apagam o brasileiro se depara com os problemas aos quais se acostumou, e quem sabe, só esteja cansado de enfrentar. É como dizem por aí: a esperança nunca morre, e talvez seja ela quem esteja sustentando este país.

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