CLÁUDIO GUADALUPE
Poeta integrante da ADL e do ARTEFERIA
A POESIA ROMÂNTICA SOCIAL DE VICTOR HUGO
O Movimento do Romantismo Europeu surgiu ao final do século XVIII e se solidificou ao longo do século XIX, com a força literária de grandes nomes: Lorde Byron, Goethe, Mary Shelley e Victor Hugo. Destes, Lorde Byron marcou o ultrarromantismo (autor de Don Juan que muito influenciou no Brasil os autores Álvares de Azevedo, Fagundes Varela, Junqueira Freire), com uma poesia ligada ao individualismo exarcebado, à ironia, ao amor, à morte e ao espírito do mal do século:
UMA TAÇA FEITA DE UM CRÂNIO HUMANO (Frag.) (Tradução de Castro Alves)
Não recues! De mim não foi-se o espírito…
Em mim verás – pobre caveira fria –
Único crânio que, ao invés dos vivos,
Só derrama alegria.
Vivi! amei! bebi qual tu: Na morte
Arrancaram da terra os ossos meus.
Não me insultes! empina-me!… que a larva
Tem beijos mais sombrios do que os teus.
Mas hoje vamos comemorar a presença de um dos maiores poetas do movimento romântico, na Europa, do século XIX, que tanto influenciou o romantismo no Brasil, sobretudo Castro Alves, nosso poeta do condoreirismo. Falamos do francês Victor Hugo (26/02/1802 a 22/05/1885), poeta, dramaturgo, romancista e enérgico deputado de esquerda, defensor da república, lutador contra a pena de morte e as injustiças sociais!
Sua obra se inicia com poemas (Odes e Poesias Diversas/1822), e depois veio os dramas teatrais, os romances famosos como O Corcunda de Notre Dame (1831) e Os Miseráveis (1862). Como romântico apresenta em seus textos as característica do movimento: o amor idealizado, o nacionalismo, o subjetivismo, os ideais pequeno-burgueses. Mas o autor depois desenvolveu especialmente uma literatura mais humanista e de engajamento político.
No Brasil, o poeta influenciaria, sobretudo, a terceira geração de poetas, o chamado Romantismo Social. Passa antes por Gonçalves Dias (1823-1864), Álvares de Azevedo (1831-1852), Casimiro de Abreu (1839-1860), que sempre o citaram. Ao final, fortalece o romantismo condoreiro, de tom social, de Castro Alves, que o traduziu várias vezes.
Os versos abaixo trazem a marca de Victor Hugo, cantor das mudanças revolucionárias e da ideologia heroica na Europa burguesa:
O futuro tem muitos nomes.
Para os fracos é o inalcançável.
Para os temerosos, o desconhecido.
Para os valentes é a oportunidade.
Os próximos versos mostram a grande sensibilidade humanista do escritor:
A INFÂNCIA
Vitor Hugo
O menino cantava;
sua mãe, no leito, agonizava,
Extenuada, a sua fronte na sombra pendia;
E sobre ela, a morte numa nuvem vagueava;
E eu ouvia a canção e escutava a agonia.
Tinha cinco anos o menino, e junto à janela,
Um claro som de riso e de jogos se erguia;
E a mãe, ao lado da criança doce e bela
Que todo o dia cantava, toda noite tossia,
A mãe sob as lajes do claustro foi dormir;
E o menino voltou a cantar…
A dor é um fruto que Deus não faz surgir
Num ramo frágil demais para o suportar.