‘Eu quero justiça’, diz mãe de criança que morreu na UPA

Bruno Bueno 

A morte de Thallya Beatriz segue repercutindo em Divinópolis. A menina de apenas quatro anos faleceu na UPA Padre Roberto na última sexta-feira. A Prefeitura alega que ela teve uma crise convulsiva.

Juliana da Silva Pinto usou a Tribuna Livre da Câmara na tarde de ontem para desmentir a versão da Prefeitura e cobrar explicações. Ela afirma ter sido medicada após a morte de seu filha e pede justiça às autoridades.

Desabafo

Juliana quer, acima de tudo, saber o que aconteceu com sua  filha. 

— Até agora eu não consigo entender. Eu cheguei com ela na quarta-feira com dor na perna, por volta das três da tarde. Fui fazer a triagem dela já estava à noite. Consultei por volta das oito horas e a mulher foi super ignorante comigo — disse.

Segundo a mãe, a médica da unidade disse que Thallya não tinha nada.

— Eu disse a ela que minha filha estava sentindo muita dor. A médica disse que se ela estivesse sentindo dor, estaria chorando. Não queria fazer exame no consultório. Ela mandou eu ir para casa com minha menina sentindo dor — comentou.

Rebateu

A mãe rebateu acusações de que ela teria voltado com a menina na sexta-feira desfalecida. 

— Se isso fosse verdade, eu não teria feito a ficha. (…) É só puxar as câmeras. Eu fui com minha filha ao banheiro. Na hora que eu sentei, ela começou a passar mal — pontua.

Juliana também negou a versão da causa da morte de Thallya.

— Eles falaram que a minha filha estava tendo parada cardíaca. Depois colocaram que ela teve convulsão. Ela nunca teve isso. Outra hora eles falam que tinha problema respiratório, ela não tinha. Eu quero saber de que minha filha morreu. Eu quero justiça —  garantiu.

Medicação

A mãe também questionou outras possíveis irregularidades que aconteceram após a morte de Thallya. Ela alega que foi medicada após o falecimento.

— O corpo dela chegou mais rápido em casa do que eles tentaram reanimar. Por que eles quiseram tirar minha filha rápido da UPA? Eu e meu esposo fomos medicados na UPA e ficamos “baqueados” — destaca.

Tristeza

Juliana garante que, para ela, houve descaso no atendimento.

— Minha filha chegou com dor na perna e foi parar em um caixão. (…) Eles fizeram muito pouco caso dela. Com outras crianças também. Eu não fui embora da UPA porque minha filha estava passando mal — salienta.

Sua rotina após a morte de Thallya mudou abruptamente.

— Eu não estou vivendo, comendo e dormindo. Eu tenho mais três filhos. Só Deus sabe o que eu estou passando. Isso não vai trazer minha filha de volta, mas eu não quero que isso aconteça com outra mãe — reitera. 

UPA rebate

A diretora-técnica da UPA, Ludmilla Pizzigatti, acredita não haver falhas no processo.

— Vamos aguardar a sindicância. Porém, na minha opinião como diretora, não houve falhas. O atendimento foi rápido, foi oportuno, mas o desfecho não foi o que a gente gostaria que acontecesse — comentou em entrevista nesta semana.

Uma sindicância foi aberta pela Prefeitura para apurar a situação.

— O atendimento foi rápido, foi oportuno, mas o desfecho não foi o que a gente gostaria que acontecesse — comenta Ludmilla Pizzigatti.

Rotina

Ludmilla ressaltou que casos como Thallya fazem parte da rotina.

— Para quem trabalha em serviço de urgência e emergência, isso é uma situação corriqueira, porque o nosso volume de atendimento é grande, é alto. Volto a frisar, não é o esperado, não é o que a gente quer, mas pode vir a acontecer sim — esclarece.

A diretora detalhou todo o cronograma de atendimento da criança

— Ela teve um primeiro atendimento na quarta onde ela foi diagnosticada com um quadro de doença respiratória indeterminada em evolução. Foi orientada pela médica e prescrita com antibiótico. Avisamos a família para retornar em caso de agravamento e assim foi feito na sexta. Ela chegou com sinais de gravidade e acabou culminando com uma parada cardiorrespiratória que foi irreversível — detalha. 

A principal hipótese é que Thallya tenha desenvolvido um quadro de doença bacteriana. 

— Nos solidarizamos com a família. Não faltou recurso para essa criança. Tentamos reanimá-la e sua morte não teve haver com as transferências realizadas — pontua. 

CPI

O vereador Flávio Marra (PRD) colheu assinaturas para protocolar o pedido de CPI para apurar possíveis irregularidades cometidas pelo Instituto Brasileiro de Políticas Públicas (Ibrapp) na UPA. A empresa é a atual gestora da unidade. 

Todos os vereadores assinaram o documento. Nesta semana, o Ibrapp protocolou uma denúncia contra o vereador  na Comissão de Ética da Câmara.

Transferências

Após o caos na Saúde, a Prefeitura anunciou a compra de 14 leitos infantis do Complexo de Saúde São João de Deus (CSSJD). São 12 na área de enfermaria e dois no CTI, que somente vão atender pacientes de Divinópolis. A contratação tem o período de 60 dias e vai custar R$ 1,1 milhão.

Segundo a assessoria do CSSJD, um menino de quatro anos foi transferido e já teve alta. Até o início da tarde de ontem, o hospital possuía 6 crianças da UPA internadas, sendo 3 meninos e 3 meninas. Ao todo, sete pacientes já foram transferidos.

Ambulatório

Dois novos ambulatórios destinados a atender pacientes com doenças respiratórias e suspeita de dengue começam a funcionar na próxima segunda-feira. O objetivo é desafogar a UPA. 

O atendimento de adultos será realizado no bairro Afonso Pena, no atual ambulatório de pacientes com sintomas de dengue. O endereço é na rua Nova Serrana, 140, no bairro Afonso Pena (próximo à Igreja São Sebastião).

Já o atendimento de crianças será realizado na Policlínica, na rua São Paulo, 10, no Centro de Divinópolis.

Ambos vão funcionar sete dias por semana, de 07h às 19h. A expectativa é que os dois novos ambulatórios abram as portas no dia 6 deste mês, próxima segunda-feira.

— Os pacientes devem procurar os ambulatórios antes da UPA — explicou a vice-prefeita, Janete Aparecida.

Olho: 

“Até agora eu não consigo entender.”

  • Juliana da Silva, mãe de Thallya

Foto: Divulgação

Legenda: A mãe levou um cartaz com a foto da filha para a Câmara

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