Prefeitura define comissão especial para troca de gestão da UPA

Ígor Borges

Depois da aprovação para que o Consórcio Municipal Consórcio Intermunicipal de Saúde da Região (CIS-URG) Oeste assuma a gestão da Unidade de Pronto Atendimento (UPA) Padre Roberto, a Prefeitura rescindirá o contrato com a atual gestora. Esse processo será feito de forma amigável, segundo o Executivo.

A partir de hoje, uma Comissão de Transição será definida para conduzir o processo de substituição de gestão. O Município garantiu a assistência dos pacientes neste período, que deve ser de até 40 dias.

O Instituto Brasileiro de Políticas Públicas (Ibrapp) havia se posicionado em relação à troca, dizendo que “mudar a gestão pelas redes sociais era fácil”. 

Em meio a tudo isso, os problemas na unidade não são de agora, e a temática é discutida desde sempre, seja na Câmara ou no Executivo.

Rescisão do contrato

A Prefeitura se reuniu com o Ibrapp nesta segunda-feira para uma rescisão amigável do contrato da gestão da UPA. De acordo com o Executivo, a reunião foi realizada a pedido do Município, após este ter optado pela mudança no formato de gestão da unidade. 

A Prefeitura solicitou agora, que o Conselho Municipal de Saúde agende uma reunião extraordinária para que a mudança seja apreciada pelo controle social. Além disso, uma reunião foi feita ontem com os colaboradores da UPA, para posicioná-los sobre os trâmites administrativos da mudança de gestão. 

A partir de hoje,  começam os trabalhos de transição.

— A Prefeitura de Divinópolis irá designar os profissionais que integrarão uma Comissão de Transição, que conduzirá o processo de substituição de gestão, com garantia por parte do Município, de que com essa possível mudança, a assistência aos pacientes seja integralmente preservada — afirmou o Executivo. 

O Agora questionou o Ibrapp.Disse que irá se posicionar em momento oportuno. 

Decisão

A decisão de o consórcio assumir a administração da unidade de saúde, foi unânime entre os  prefeitos da região. A votação ocorreu na manhã desta segunda, 13, em assembleia realizada no Centro de Divinópolis. 

O órgão confirmou em nota, que a troca foi aprovada por unanimidade e será dado andamento aos trâmites legais. 

— A mudança não será imediata e haverá um período de transição de cerca de 40 dias — informou o CIS-SURG. 

Presente na votação, o prefeito de Itaguara e presidente do Consórcio, Geraldo Donizete (PSDB), o Chumbinho, agradeceu a participação dos colegas.

— Agradecemos a participação dos prefeitos das cidades que fazem parte da Instituição na assembleia. Foi um momento importante tanto para o CIS-URG Oeste quanto para o município de Divinópolis. Essa decisão nos responsabiliza a trabalhar ainda mais para a saúde da população e estamos felizes com a confiança — enfatizou.

Críticas do Ibrapp

A atual administração da UPA se pronunciou pela primeira vez neste terça-feira, desde o anúncio da mudança de gestão para o CIS-URG. Em nota, o Ibrapp afirmou ter atendido todas as solicitações do Executivo e Legislativo.

— O número de atendimento de pacientes na UPA aumentou consideravelmente desde o fim do ano passado e o Ibrapp alertou ao município quanto a isso. Somente em fevereiro, após saturação de atendimento e várias reclamações, que afetavam a imagem do executivo, foi aberto o ambulatório da dengue para desafogar a UPA, mesmo assim, o número de atendimentos continuava elevado — afirmou.

Ainda de acordo com o Ibrapp, nenhum paciente deixou de ser atendido.

— O Ibrapp ainda destaca que em momento algum a população ficou desassistida ou sem atendimento na UPA Padre Roberto, sendo em alguns momentos verificados tempo de espera maior, de casos classificados, pelo Protocolo de Manchester, como não urgentes, que deveriam ser atendidos em UBSs, porém devido ao fato de demora de conseguir consulta e exames na atenção básica de saúde, a população opta por procurar atendimento na UPA — reiterou.

Críticas 

— Reiteramos nosso compromisso com a população, mas é absolutamente infundada a gestão da UPA levar toda a responsabilidade das falhas da saúde como um todo, se há falta de prevenção na atenção primária e também não há leitos hospitalares para transferência de pacientes. Mudar a gestão pelas redes sociais é fácil e, claro, não irá mudar o cenário real da saúde que precisa de mais atenção primária e leitos hospitalares para fazer todo o sistema funcionar — finalizou. 

Gota d’água

A gota d’água na relação entre Prefeitura e Ibrapp ocorreu quando  Thallya Beatriz, de apenas quatro anos, morreu na UPA, no final de abril. A Prefeitura informou que ela teve um quadro convulsivo. No entanto, a família da menina contesta a versão. 

A diretora acredita não haver falhas no processo.

— Vamos aguardar a sindicância. Porém, na minha opinião como diretora, não houve falhas. O atendimento foi rápido, foi oportuno, mas o desfecho não foi o que a gente gostaria que acontecesse — comentou Ludmilla Pizzigatti, diretora-técnica da UPA, há cerca de duas semanas.

Depois disso, o fim de semana em questão foi de muitas transferências de pacientes pediátricos, seja para outros municípios ou para o Complexo de Saúde São João de Deus (CSSJD), que foi procurado pela Prefeitura.

O Executivo comprou 14 leitos infantis. São 12 na área de enfermaria e dois no CTI. A contratação tem o período de 60 dias e custou R$ 1,1 milhão aos cofres públicos.

Longa data

Os problemas na UPA, entretanto, são de longa data. Em março do ano passado, o Ibrapp publicou uma nota revelando que em 13 dias realizou mais de 4 mil atendimentos. A temática já foi motivo de audiência pública realizada na Câmara Municipal, convocada à época pela Comissão de Saúde da Câmara. O presidente da comissão, vereador Zé Braz (PV), já direcionava sobre as cobranças.

— É necessário identificar se há falhas e onde elas estão para que possamos dar dignidade para a nossa população. (…) Não é possível alguém ficar na porta da UPA de 10 a 12 horas de prazo — disse. 

O então diretor técnico da unidade, Tarcísio Teixeira, foi o alvo das principais perguntas. Ele está na unidade desde setembro de 2014 quase ininterruptamente. O servidor relatou que a estrutura já chegou a receber 65 pacientes para internação.

— Quando você atinge essa capacidade, é normal que os hospitais não aceitem mais nenhum paciente. Mas a UPA, não. Se internar 70, 80 ou 100 pessoas, não podemos tirar elas da UPA e colocá-las em outro lugar. Além das pessoas aguardando internação, temos uma demanda flutuante. São aqueles que tomam medicação, fazem exames etc — afirma.

Na época, o aumento significativo do número de atendimentos já preocupava as autoridades. 

— Foram 7.640 pacientes nos 31 dias de janeiro. Fevereiro, com 28 dias, acumulou 8.788 atendimentos. Só aí já é um aumento de 1.200 pessoas, mesmo com 3 dias a menos. Os primeiros 13 dias de março também preocupam. São 4.181 atendimentos, ou seja, um aumento de quase 50% em comparação ao mês passado — revelou Tarcísio, sobre o ano de 2023.

O crescimento também foi observado no número de atendimentos pediátricos. Foram 941 pacientes acolhidos em janeiro e 1.503 em fevereiro – um aumento de 60%.

— Isso impacta diretamente no tempo de espera. Além disso, a gravidade desses pacientes também aumentou. Não é só analisar os números friamente. O médico que recebe um paciente grave, que precisa de intubação, está deixando de atender outro que foi classificado como verde ou azul — acrescenta o diretor técnico.

Foto: Divulgação/PMD

Legenda: Reunião para rescisão ocorreu nesta semana

Foto/ Divulgação/ CIS-SURG 

Legenda/ A aprovação dos prefeitos ocorreu durante assembleia 

OLHO

 A mudança não será imediata e haverá um período de transição de cerca de 40 dias – CIS-SURG

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