Por que atualmente, tanto se fala em crise de ansiedade?
Por que as pessoas estão mais adoecidas?
Por que os consultórios estão cada vez mais lotados?
No século 19 e 20, durante a era de Freud, a sociedade europeia impunha que os indivíduos fossem decentes, virtuosos, e moralmente irrepreensíveis, controlando suas emoções e impulsos. Essa pressão resultava em pessoas que desenvolviam diversos mecanismos de defesa, manifestando fobias, síndrome do pânico e comportamentos repetitivos.
Hoje, no entanto, esse tipo de sofrimento é menos comum, já que os valores de decência, virtude e moral perderam destaque. Em seu lugar, observamos um aumento de pessoas ansiosas, inseguras e com baixa autoestima. Muitos estão desorientados, sem diretrizes claras sobre como viver.
Essa falta de orientação e a angústia diante de inúmeras escolhas os tornam vulneráveis a gurus de alta performance, que prometem vidas épicas e desbloqueadas. O poder e a rigidez cultural da época de Freud foram substituídos pela influência das redes sociais, que traz um posicionamento de um pequeno recorte da vida das pessoas que, em muitos momentos, aparecem como portadores da verdade ou vidas perfeitas. Fazendo assim com que o nível de cobrança e comparação seja grande, trazendo uma desorientação.
Podemos pensar que a cada século traz consigo o seu tipo de sintoma, ou seja, de sofrimento.
Essa desorientação atual contribui para a crescente crise de ansiedade.
A sociedade moderna, com sua ênfase na realização pessoal e no sucesso rápido, impõe uma pressão intensa sobre os indivíduos. Sem uma bússola moral ou diretrizes claras, muitos se sentem perdidos e sobrecarregados pelas infinitas possibilidades e expectativas.
O bombardeio constante de informações e comparações nas redes sociais exacerba essa sensação de inadequação e ansiedade. Grandes gurus prometem fórmulas mágicas para o sucesso, mas muitas vezes apenas aumentam a insegurança e a sensação de fracasso daqueles que não conseguem alcançar esses padrões idealizados.
Essa combinação de fatores – a falta de orientação, a pressão para ser bem-sucedido, e a influência de redes sociais – leva a um aumento significativo na busca por ajuda profissional. As pessoas estão mais adoecidas porque vivem em um estado constante de alerta e insatisfação, sempre buscando mais e nunca se sentindo suficientes.
Os consultórios lotados são um reflexo desse cenário, onde cada vez mais indivíduos procuram alívio para sua angústia, ansiedade e orientação para navegar em uma sociedade que parece não oferecer respostas claras. Em resumo, a crise de ansiedade e o aumento das doenças psicológicas são sintomas de uma sociedade que perdeu suas antigas referências morais e agora luta para encontrar novas formas de equilíbrio e significado.
Para enfrentar essa crise de e as doenças psicológicas associadas, é necessário um enfoque multifacetado que aborde tanto o nível individual quanto o social. Uma saída envolve o autoconhecimento para que as pessoas aprendam a lidar com suas emoções, desenvolver resiliência e construir uma autoestima saudável. Além disso, é fundamental reduzir a pressão social que enfatiza o sucesso imediato e redefinir o que significa “sucesso”.
Isso pode ser alcançado também através de campanhas públicas e mudanças nas narrativas midiáticas que promovam uma vida equilibrada e sustentável.
Outra medida importante é promover um uso mais consciente e limitado das redes sociais para reduzir a comparação social e a pressão pela perfeição. Isso inclui práticas como pausas digitais e períodos sem tecnologia para desintoxicação mental.
Promover a prática regular de autocuidado, como exercícios físicos, meditação, hobbies e tempo de qualidade com entes queridos, também é essencial para combater os males deste século, como o estresse e a ansiedade.
Por fim, encontrar um sentido de propósito e desenvolver projetos de vida que deem direção e significado, seja através de aconselhamento, mentoria ou programas de desenvolvimento pessoal, pode ajudar a reduzir a ansiedade e melhorar a saúde mental das pessoas.
Daniela Veríssimo é psicóloga
Especialista em saúde pública, dependência química e neuropsicologia.
daniela-psi@hotmail.com
