A busca incessante pela beleza, estipulada por uma sociedade cada vez mais presa na perfeição e no espetáculo, fez mais uma vítima. O empresário Henrique Silva Chagas, que morreu após ser submetido a um peeling de fenol, se junta a tantas outros que sonhavam com um padrão estético “aceitável” pela sociedade. Apesar de não ser a primeira, a situação leva sempre a dois questionamentos. O primeiro é sobre este vazio enorme que toma conta da humanidade e faz com que essa busca pela perfeição adoeça as pessoas, e as torne cada vez mais exigentes consigo mesmas — e com os outros. A segunda reflexão é um pouco mais delicada, mas extremamente necessária. É sobre os caminhos que as pessoas trilham para ter a “perfeição” a qualquer custo”.
É fato que as clínicas de estética estão espalhadas por todos os lados Brasil afora. O setor de serviços voltados para beleza foi um dos que mais cresceu em 2023 e continua em expansão. O ramo movimenta milhões, e obviamente interessa aos governos. Afinal, quanto mais dinheiro, mais arrecadação. Porém, há um ponto de encontro na maioria dos casos de pessoas que têm suas vidas ceifadas pela busca incessante pelo padrão imposto pela sociedade: muitas clínicas realizam esses procedimentos de forma clandestina, e os profissionais sequer têm autorização para realizar tais intervenções.
O pacote perfeito que simboliza o Brasil. Um mercado em franco crescimento, que movimenta milhões e, assim, gera arrecadação – a parte que realmente interessa ao poder público, que deixa a desejar na fiscalização. A busca desenfreada para se enquadrar e se sentir pertencido, a ganância, a falta de responsabilidade e de entendimento… O conjunto perfeito para o caos.
Há pouco mais de um ano, Divinópolis acompanhava um caso semelhante, que causou revolta na população. Hoje, quase ninguém se lembra mais. Mesmo com a repercussão da morte de Íris Martins, de 46 anos, após passar por um procedimento em clínica de estética no Centro de Divinópolis, a biomédica foi presa, saiu e depois presa de novo. Agora cumpre prisão domiciliar. Tudo isso impressiona. Mas ainda há um outro ponto a ser levado em consideração, infelizmente muitos outros se juntarão a Íris e a Henrique nessa estatística. Afinal, aqui é Brasil. Como dizem por aí “o puro suco da irresponsabilidade”.
Não há fiscalização dos órgãos competentes, não há preocupação por parte da população, e muito menos interesse em se informar, há apenas um desejo incessante por preencher esse vazio que cresce a cada dia, há a impunidade, e pronto, o cenário perfeito para que mais pessoas sejam vítima do mercado da estética está formado. A esteticista e influencer Natalia Fabiana de Freitas Antonio, que se identifica nas redes sociais como Natália Becker e é dona da clínica em que o procedimento de Henrique foi realizado, segue foragida. Daqui alguns dias, ela se entrega, responde em liberdade, daqui um ano ninguém lembra mais e mais vítimas entram na estatística… Afinal, aqui é Brasil!
