É impossível não fazer reflexões necessárias sobre a violência, diante dos três homicídios e das tentativas, registrados na cidade entre sábado e domingo. Muito além de julgar e proclamar: ah é falta de Deus; de amor; ou ainda, as pessoas perderam o amor pela vida; é preciso ir um pouco “mais embaixo” e começar pelo “x” da questão. O enredo dos dois homicídios registrados no sábado é praticamente o mesmo, e já é bem conhecido pela população. Ao que tudo indica, acerto de contas do tráfico de drogas. Mas, talvez, a questão seja: esses jovens perderam suas vidas para o tráfico ou para o Estado? Sim! É mais do que necessário fazer este tipo de reflexão. Apesar de a situação ser um pouco diferente, mas o homicídio de domingo também passa por uma violência anterior – os suspeitos têm diversas passagens – que culminou no assassinato do idoso no bairro Jardinópolis. Esses cenários só levam a uma certeza: muito antes desses homicídios, a violência já se fazia presente na vida dos envolvidos.
É assustador pensar, mas a verdade é que a sociedade brasileira se tornou refém de um sistema falido, que faz milhares de vítimas todos os dias. Se pegarem pela pontinha, de onde tudo isso começa, a desesperança vai tomar conta ainda mais da população. Enquanto a sociedade perde tempo julgando, apontando, e esquecendo-se de que a violência é apenas o resultado da falta de várias coisas que foram negadas para parte da população lá atrás, o cenário é único: mais e mais vítimas serão feitas todos os dias. É impossível falar de violência e não citar a economista Maria da Conceição Tavares, que morreu no último sábado. Entre suas frases icônicas, algumas merecem ter destaque: “A economia que não se preocupa com a justiça social é uma economia que condena os povos a isso que está ocorrendo no mundo inteiro, uma brutal concentração de renda e de riqueza, o desemprego e a miséria. (…) Isso é coisa de tecnocrata alucinado, que acha que está tudo ok, e não está nada ok.” É fato, se tem uma coisa que não está, é ok. Por aqui o caos anda reinando. Em outra citação, Maria da Conceição diz, de forma muito assertiva: Ninguém come PIB.
Fato. Onde há pobreza, a falta de acesso à educação de qualidade, e a desigualdade social reinam, e a violência se fará presente. Poderia-se dizer que é melhor o brasileiro ir se acostumando, pois não há um plano eficiente para este caos, mas a verdade é que infelizmente a população já se acostumou, e segue apenas contando com a sorte para não ser a próxima vítima desse sistema falho chamado Brasil. O povo se acostumou a viver no caos, a se aterrorizar, a apontar, julgar, e a seguir a vida adiante, como se o dia anterior não tivesse existido. Crítico e preocupante. Talvez essas seriam as palavras certas para definir o Brasil. E, como não há uma saída a vista, o jeito é apenas se ater ao velho questionamento: quanto vale uma vida? Por aqui, não está valendo muita coisa, e aos brasileiros sobrou apenas conviver com a sorte, pois o cenário deve seguir o mesmo, por anos a fio.
