Ígor Borges
Bitucas de cigarros jogadas à beira das rodovias, lixo na porta de de casa, nos quintais, queima do mato seco para viabilizar plantações na zona rural. São os exemplos mais conhecidos e que podem se transformar em grandes incêndios. Durante o período de estiagem, então, a possibilidade e a incidência das queimadas aumentam significativamente. E os números provam isso. Até o momento, a região Centro-Oeste registrou um aumento de 47% em relação ao mesmo período de 2023. A situação preocupa, não só aos Bombeiros, que trabalham no combate às queimadas, mas também aos profissionais da saúde.
De acordo com o 10º Batalhão de Bombeiros Militar, mais de 400 ocorrências foram registradas na região. Em cenário nacional, quase ¼ do território sofreu com as queimadas nos últimos dez anos.
O Agora também ouviu a pneumologista Bianca Fidelix, que comentou sobre os riscos da ingestão de fumaça, principalmente para pessoas com doenças que afetam o sistema respiratório.
Região
O período de estiagem, conforme o Corpo de Bombeiros, geralmente ocorre de abril a setembro. Com ele, a situação de incêndios florestais é agravada, e com isso, estes casos tendem a se tornar mais frequentes e intensos devido à vegetação seca e às condições climáticas desfavoráveis.
— A redução das chuvas e a queda significativa na umidade do ar, típicas do inverno, já estão sendo sentidas na região, aumentando o risco de incêndios em áreas de vegetação — explicou a assessoria do batalhão.
Conforme o batalhão, até o momento, aproximadamente 466 ocorrências de incêndio em vegetação já foram registradas na região Centro-Oeste. Neste mesmo período de 2023, cerca de 316 ocorrências foram registradas. Ou seja, um aumento de 47%, em comparação ao ano passado.
Nacional
Quase um quarto do território brasileiro pegou fogo, ao menos uma vez, no período entre 1985 e 2023. Foram 199,1 milhões de hectares, o equivalente a 23% da extensão territorial brasileira.Da área atingida por incêndio, 68,4% eram vegetação nativa, enquanto 31,6% tinham presença da atividade humana, notadamente a agropecuária. O Cerrado e a Amazônia são os principais biomas vítimas da ação do fogo, seja de origem natural ou provocada pelo homem. Juntos, são 86% da área queimada.
Os dados obtidos por meio de comparação de imagens de satélite fazem parte de um estudo divulgado pelo MapBiomas Fogo, rede que envolve universidades, organizações não governamentais (ONGs) e empresas de tecnologia.
Riscos à saúde
O Agora também conversou com a pneumologista Bianca Fidelix, que atua na Hapvida NotreDame Intermédica. Ela explicou sobre os perigos de ingerir fumaça proveniente das queimadas.
— A fumaça é uma mistura de gases com partículas finas que podem causar sintomas desde irritação nos olhos, nariz e garganta até tosse seca. A fumaça também pode causar dor de cabeça, tontura e náusea devido à inalação de substâncias tóxicas como monóxido de carbono entre outras — comentou.
Ela completa dizendo que em pessoas com doenças respiratórias os riscos são ainda maiores. A pneumologista explica que para alguém com pneumonia, a exposição à fumaça pode agravar a inflamação dos pulmões, e levar a um aumento na dificuldade respiratória, dor no peito e necessidade de hospitalização.
— No caso da rinite alérgica, a fumaça pode intensificar os sintomas como congestão nasal, espirros frequentes e irritação nos olhos. Isso ocorre porque as partículas na fumaça podem desencadear reações alérgicas, piorando a inflamação das vias aéreas — dissertou.
Ela ainda falou dos riscos para pessoas com tuberculose, doença que, segundo a profissional, já enfraquece os pulmões. Bianca relata que a exposição à fumaça pode causar uma exacerbação dos sintomas, como tosse intensa, produção de escarro e dor no peito. Isso pode dificultar ainda mais o tratamento e a recuperação do paciente.
Procedimentos
Por fim, Bianca reafirma que a principal recomendação, em qualquer caso, é evitar ao máximo a exposição à fumaça.
— Se você estiver em uma área próxima à queimada, procure permanecer em ambientes fechados e bem ventilados. Feche todas as janelas e portas para impedir a entrada de fumaça e utilize purificadores de ar, se disponíveis. Os aparelhos de ar condicionado com filtros de ar também podem ajudar a manter o ambiente interno mais seguro — relatou.
A pneumologista recomenda ainda que, em caso de necessidade, a população pode utilizar máscaras adequadas, como as do tipo N95, que são eficazes na filtragem de partículas finas presentes na fumaça.
— Mantenha-se bem hidratado, pois a água ajuda a manter as vias aéreas úmidas e facilita a eliminação de toxinas. Fique atento às orientações das autoridades locais e siga as recomendações sobre evacuação e segurança. Em caso de sintomas severos, procure assistência médica imediatamente — finalizou.
Pedido de colaboração
Ao Agora, o 10º Batalhão de Bombeiros Militar reforça que a população precisa adotar medidas preventivas para evitar incêndios florestais.
— Incendiar áreas de vegetação é crime ambiental, conforme previsto na Lei de Crimes Ambientais (Lei nº 9.605/1998), e os responsáveis podem ser penalizados com multas e reclusão — destacou a assessoria.
O 10°BBM pediu ainda a colaboração de todos para denunciar qualquer atividade suspeita de incêndio ilegal através do telefone 193.
— Recomenda-se evitar o uso de fogo para limpeza de terrenos e descartes inadequados de cigarros ou qualquer material inflamável em áreas de vegetação — completou.