A questão do ser acompanha a filosofia já nos seus primeiros passos. Grosso modo, para a filosofia, ser é tudo aquilo que existe com suas características próprias. Foi Parmênides de Eléia (530 a 460 a.C) quem inseriu na filosofia este tema. A ontologia é o ramo da filosofia que estuda o ser e foi Aristóteles quem primeiro, de forma organizada e sistemática, caracterizou o ser humano.
Para Aristóteles, todo ser tem como característica principal a finalidade para a qual ele existe. Neste prisma, a característica fundamental do ser humano é a sua racionalidade. É exercendo-a com toda a sua potência que o ser humano se realiza. Como ser carente e imperfeito, ele busca o convívio social, pois é em comunidade que ele melhor obtém a sua sobrevivência e encontra a felicidade, que é o seu maior objetivo.
Neste sentido, foi Aristóteles quem disse que o homem é um ser racional. E como ele exerce a sua razão em comunidade é também um ser político. Política para ele é a atuação comunitária do homem, usando a sua razão em prol da harmonia do coletivo. Para o filósofo, como a razão, a moralidade também é própria do ser humano e isto o obriga a agir de forma justa e em busca do bem.
Ainda segundo o filósofo, o ser humano é constituído de corpo e alma, que agem formando uma unidade. Para ele, todo ser vivo possui alma, pois é ela que potencializa a vida. A alma dos seres vivos inferiores (inclusive as plantas) teria apenas a propriedade vegetativa, responsável pela nutrição, crescimento e reprodução. Os animais teriam ainda a alma sensitiva. Ela é responsável pela sensibilidade, sendo o tato o mais importante e, sem o qual, os animais e o homem não viveriam. Apenas o ser humano possui a alma racional, como descrevemos acima. O primeiro filósofo a falar em alma foi Tales de Mileto, porém foi Sócrates quem a associou ao corpo e a espiritualidade.
Esta caracterização do ser humano perdurou por séculos. É bem verdade que após o cristianismo assumir um papel dominante no ocidente, o ser humano passou a ter uma atuação diferente. Para a igreja, principalmente na idade média, o homem não deveria se preocupar com as coisas que acontecem na terra, pois a salvação estava em outro mundo. Ele deveria ter fé nas coisas divinas, ser temente a Deus, pois assim ganharia o reino dos céus.
Das idéias de Aristóteles para cá – quase 2.500 anos nos separam – muita coisa mudou. Em meados do século XIX a teoria da evolução das espécies de Darwin demonstrou que os seres vivos estão em constante mutação, fato fundamental para a preservação das espécies. O desenvolvimento das ciências, trazendo recursos indisponíveis na época da Grécia antiga, também levantou novos questionamentos sobre o que caracteriza o ser humano. Precisamos lembrar, ainda, do vasto horizonte aberto com estudos e experiências nos vários campos da neurologia, pois eles acrescentaram informações valiosíssimas a este debate.
Tudo isto nos possibilita enxergar com maior clareza quem é este ser chamado de humano. Porém, sejamos justos, nada tira o valor daqueles que primeiro se aventuraram a filosofar sobre este tema; que até hoje suscita debates tão calorosos, polêmicos e apaixonados. E, naturalmente, uma pergunta fica no ar: Afinal, podemos afirmar que existe uma natureza humana? Para esclarecer, este será o assunto do nosso próximo artigo. Se você achou interessante, acompanhe a nossa coluna aqui no Jornal Agora. Sempre nas 3ª feiras, a cada 2 semanas.
