A cultura do trabalho e sua relação com a sociedade 

Muito se fala em trabalho, formas de trabalhar, e principalmente sobre a cultura que envolve o termo “Trabalho”. 

Eu particularmente entendo como trabalho tudo aquilo que lhe gera pagamento ou remuneração por alguma atividade exercida, e nisso também entra o trabalho “voluntário”, que não te dá dinheiro, mas lhe gratifica de outras formas. No entanto, existem outras formas de se entender ou interpretar o trabalho. 

A história do homem e sua relação com o trabalho é um tema vasto e complexo, que abrange desde os primórdios da humanidade até os dias atuais. A seguir, um panorama dessa trajetória:

Sociedade Primitiva: caça, coleta e subsistência

No início, os primeiros seres humanos eram nômades e viviam da caça, pesca e coleta de alimentos. O trabalho era realizado em pequenos grupos e era essencial para a sobrevivência. Nesse período, não havia distinção clara entre “trabalho” e “vida diária”; tudo estava centrado na obtenção de recursos necessários para a subsistência. As atividades eram compartilhadas por todos, com divisão de tarefas baseada em fatores como força física e habilidades.

Revolução Agrícola: A Sedentarização e o surgimento da Propriedade

Por volta de 10.000 a.C., com a Revolução Agrícola, os seres humanos começaram a cultivar plantas e domesticar animais. Esse avanço permitiu a sedentarização e o surgimento das primeiras aldeias e sociedades complexas. O trabalho agrícola se tornou a principal atividade econômica, e a ideia de propriedade privada começou a se desenvolver. A agricultura também levou ao acúmulo de excedentes, o que possibilitou a troca de bens e o surgimento do comércio.

Civilizações Antigas: Escravidão e Trabalho Especializado

Nas civilizações antigas, como a Mesopotâmia, Egito, Grécia e Roma, o trabalho começou a se diversificar. Surgiram artesãos, comerciantes, construtores, além dos trabalhadores rurais. Contudo, o trabalho manual era muitas vezes realizado por escravos, que constituíam uma grande parte da força de trabalho. O conceito de trabalho estava associado à submissão e era visto como uma atividade inferior, especialmente pelos cidadãos das classes superiores.

Idade Média: Feudalismo e Trabalho Rural

Com a queda do Império Romano e o advento do feudalismo na Europa, o trabalho passou a ser organizado em torno dos feudos. A maior parte da população era composta por servos, que trabalhavam nas terras dos senhores feudais em troca de proteção e um pedaço de terra para cultivo próprio. O trabalho era fortemente vinculado à terra e à agricultura, e as cidades eram centros menores, onde artesãos e comerciantes desenvolviam suas atividades.

Renascimento e Revolução Comercial: Ascensão da Burguesia

O Renascimento trouxe mudanças significativas na relação do homem com o trabalho. O crescimento das cidades e do comércio levou ao surgimento de uma nova classe social: a burguesia. Artesãos e comerciantes começaram a acumular riqueza, e o trabalho passou a ser mais valorizado como meio de ascensão social. A noção de trabalho como fonte de dignidade começou a emergir, especialmente nas cidades-estado italianas e nos países do norte da Europa.

Revolução Industrial: A Máquina e o Trabalho Assalariado

A Revolução Industrial, iniciada no século XVIII, transformou radicalmente o mundo do trabalho. Máquinas a vapor, fábricas e novas tecnologias alteraram profundamente a produção, levando ao surgimento do trabalho assalariado em larga escala. Trabalhadores migraram em massa do campo para as cidades em busca de emprego nas indústrias. As condições de trabalho eram frequentemente precárias, com longas jornadas e baixos salários. Esse período também deu origem aos primeiros movimentos sindicais e à luta por direitos trabalhistas.

Século XX: Direitos Trabalhistas e Sociedade de Consumo

No século XX, a relação do homem com o trabalho continuou a evoluir. Conquistas sociais, como a jornada de trabalho de oito horas, o salário mínimo, o direito à aposentadoria e as leis trabalhistas, melhoraram as condições de trabalho para milhões de pessoas. O trabalho passou a ser visto não apenas como meio de subsistência, mas também como um componente central da identidade pessoal. Além disso, o crescimento da economia global e o avanço tecnológico criaram novos tipos de trabalho, especialmente no setor de serviços e tecnologia.

Século XXI: Globalização, Automação e Trabalho Digital

No século XXI, a globalização e a automação têm transformado rapidamente o mundo do trabalho. A digitalização permitiu o surgimento de novas formas de trabalho, como o trabalho remoto e o trabalho freelance. Ao mesmo tempo, a automação ameaça substituir muitos empregos tradicionais, o que tem gerado debates sobre o futuro do trabalho e a necessidade de adaptação e requalificação da força de trabalho. Questões como a precarização do trabalho, a gig economy e o trabalho em plataformas digitais são temas centrais na discussão atual.

Conclusão

A relação do homem com o trabalho evoluiu ao longo dos séculos, passando de uma atividade de subsistência para uma complexa rede de funções que estruturam a sociedade moderna. Desde as atividades primitivas de caça e coleta até o trabalho digital e globalizado de hoje, essa relação reflete as mudanças tecnológicas, econômicas e sociais de cada época. O trabalho, além de ser uma necessidade econômica, tornou-se um fator crucial na construção da identidade e do papel social de cada indivíduo.

E você? Trabalha ou somente está empregado. 

Tem pauta sobre alguma cultura? Envie para welbertonha@gmail.com

Welber Tonhá e Silva 

Imortal da Academia Divinopolitana de Letras, cadeira nº 09

Imortal da Academia de Letras e Artes Luso-Suiça em Genebra, cadeira nº C186

Membro da Academia Mineira de Belas Artes

Historiador, escritor, pesquisador, fotógrafo e fazedor cultural.

Instagram: @welbertonha

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