Hoje é o Dia do Folclore

Augusto Fidelis

Ainda ontem, mesmo a comadre Zefina estando zangada comigo, tive que dar um pulo à sua casa e “pedir penico”. Cheguei lá e disse: comadre, em nome da nossa amizade, arranja-me um pouco de azeite para eu fazer um purgante para o Tonho da Maria Nega. Aquele menino “tem o olho maior do que a barriga”, chupou muita jabuticaba, engoliu os caroços, entupiu. Ela me entregou um vidro com quase meio litro, fiz o purgante e disse ao Tonho: segure a caneca com a mão esquerda e a chave com a direita. Feche os olhos, respire fundo e beba tudinho. Ele chorou, reclamou, mas foi tiro e queda. 

Agora, chega a Das Dores com o Flavinho queimando de febre e quer que eu o faça dormir. Ora, com essa gritaria da molecada aí na porta, brincando de “Cabra Cega”, de “pique”, jogo com “bola de meia” e não sei mais o quê, ninguém aguenta. Das Dores, peça aos meninos para brincar de outra coisa: “finca”, “maré”, “passar o anel”, “bolinha de gude”, para que façam menos barulho! Vamos lá, Flávio, durma meu querido; escuta esta: “boi, boi, boi, boi da cara preta, pega esse menino, que tem medo de careta”. 

Das Dores, este menino deve estar com mau-olhado, vou passar uma benzeção nele: “Dois te botaram. Com três eu tiro. Te benzo, cristão, de mau-olhado. Rio, mar, dores e choros, lava. Já lavou a moléstia desse cristão. Lavou com os poderes de Deus Pai, Deus Filho e Deus Espírito Santo. Deus põe a virtude. Amém”. Das Dores, toma este menino! Veja só, o tempo está fechando; se chover, vai molhar a massa da farinha.

Das Dores, “onde você quebrou o pote e que vá procurar a rodilha”.  Gente, depois que essa menina foi “morar lá nos cafundós do Judas” ela ficou lerda, mas “quem não aprende a tempo aprende com o tempo”, porque “carro apertado é que canta”. Vira e mexe a Das Dores “quer tapar o sol com a peneira”. Mas eu sei que “o peito do pé do pai do padre Pedro é preto, e que a babá boa bebeu o leite do bebê”, porém, “o alheio chora seu dono”.

Veja o absurdo: a dona Clotilde, mulher do Damaceno, professora da Vaninha, disse que hoje, 22 de agosto, é o Dia do Folclore e mandou os meninos fazer trabalho sobre o Boi Bumbá, Reinado de Nossa Senhora do Rosário, lendas, ditos populares e assim por diante. Você não vai acreditar: na Quaresma, ela teve a coragem de dizer para as crianças que mula-sem-cabeça e lobisomem não existem, são lendas do folclore! Gente, o Sô Joaquim ali da venda já lutou com um lobisomem, ele tem as marcas no corpo. A mulher dele, a dona Josefa, há pouco tempo, esteve às voltas com uma mula-sem-cabeça. Dona Josefa até chora quando conta.  É por isso que o mundo está perdido, ninguém acredita em mais nada!

augustofidelis1@gmail.com

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