Se você está lendo este editorial pela tela do seu celular ou do seu computador, saiba que você é privilegiado. Pode não parecer, pois muitas vezes julgamos a história do outro pela nossa “régua”, mas 22,4 milhões de pessoas, equivalente a 12% da população brasileira, ainda não usam a internet. Os dados são da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (Pnad Contínua). O principal motivo para o não uso da rede é a falta de conhecimento sobre como operar a tecnologia. Pode ser difícil de acreditar, mas essa é a razão apontada por 46% dos não adeptos da internet, isto é, cerca de 10,3 milhões.
Muito além de um simples levantamento, a pesquisa mostra que isso é apenas o reflexo da desigualdade educacional no Brasil. É justamente nesse ponto que vem o atual cenário que o Brasil atravessa: as eleições municipais. Como já se sabe, a grande maioria dos candidatos está focada apenas nas redes sociais, no discurso raso e fácil, que agrada parcela da população. Porém, os dados confrontam tal comportamento: os candidatos estão preparados para lidar com esses cenários que vão além da internet e desafiam qualquer governante?
Ao chegar até aqui, você pode ainda não querer acreditar que existe, sim, uma parcela da população que não tem acesso a internet. Dados como esses apresentam um desafio aos elegíveis. Afinal, se neste exato momento você lê este editorial da tela do seu celular ou do computador, então consequentemente você tem mais acesso à informação e a chance de fazer uma escolha com mais “propriedade” do que quem não tem acesso à internet. Portanto, a sua responsabilidade dobra. Afinal, se essa pessoa não tem acesso a internet, ao que mais ela não tem? Qual o cenário que ela vive e enfrenta todos os dias? Os escolhidos no dia 6 de outubro terão condições de mudar esta realidade árdua realidade, que inclui muito além do “não acesso à internet”? Do lado de lá, as eleições estão a todo vapor. Os candidatos seguem em suas bolhas, correndo desesperadamente atrás de seus votos. É neste momento que vem a pergunta: quem está na disputa consegue ir além do que a internet condiciona?
Quando a gente fala que o período exige cuidado dobrado é exatamente por isso. Acostumados a medir a realidade do outro com a “nossa régua”, muitas vezes nos esquecemos que existem cenários caóticos enfrentados por brasileiros todos os dias. A desigualdade educacional no Brasil é apenas uma delas. Ainda pode-se juntar saúde, infraestrutura, assistência social, segurança, e por aí vai. Então, quando a gente fala em voto racional, consciente, sem paixão, é justamente por isso. Por mais difícil que seja de acreditar, mais de 22 milhões de pessoas não têm acesso à internet no país. É exatamente por este motivo que na hora de escolher um candidato, a primeira pergunta que deve ser feita é: ele consegue ir além da internet? E, logo em seguida: o meu voto vai mudar/melhorar a vida do outro? Se a sua resposta for sim, então talvez ele seja digno da sua confiança. Passou disso, o ideal é repensar.
