É uma postura de pensar ser vítima com frequência, um desvio psicológico que tira a responsabilidade de si e a transfere para outro — mesmo quando a culpa não é alheia. Quem assume essa postura pensa com frequência que é injustiçado e só não está em uma situação melhor por causa dos outros. Essa definição é perfeita para aplicar e talvez entender um pouco o povo brasileiro. Sempre vítimas de tudo. Tendem a transferir para os seus governantes todas as responsabilidades quando o assunto é políticas públicas. Em partes eles podem até estarem certos, mas existe uma linha tênue entre a responsabilidade própria e aquela que é transferida. Especialistas apontam ainda que a cultura do vitimismo está impregnada nas relações sociais e na consciência do brasileiro médio. Fato. E, o período eleitoral deixa tudo isso ainda mais nítido. Com as campanhas eleitorais a todo vapor, com candidatos por todos os cantos da cidade, o que mais se encontra por aí são aquelas conhecidas frases, principalmente quando se trata de reeleição: quatro anos e nunca fez nada, agora aparece pedindo voto; foi eleito para isso, não fez mais do que a obrigação… e por aí vai.
De fato, em partes o povo tem razão, afinal basta serem eleitos para que aqueles que até então estavam batendo em portas pedindo seus votos “humildemente”, desapareçam. Mas também é fato que os brasileiros aumentam sua postura de vitimismo nessa época, e se aproveitam da situação. Afinal de contas, para acusar, apontar dedo para um candidato e dizer que ele não fez, que só está aparecendo agora em época eleitoral, o mínimo que o eleitor tem que ter feito nos últimos quatro anos é acompanhar o trabalho da Câmara e/ou da Prefeitura de perto. O mínimo que o eleitorado teria que ter feito é se interessado sobre o assunto, e se inteirado sobre o que estava acontecendo na cidade no período que antecedeu as eleições. Para julgar que fulano fez pouco, ou não fez nada, e só está “aparecendo agora”, os cidadãos precisavam ter feito sua parte de fiscalizar e cobrar. Mas, com consciência, com responsabilidade, e não apenas vivido dentro de sua “bolha” e esperado esta época do ano para começar a velha ladainha do “agora apareceu”, e fazer muitas vezes acusações infundadas, adotando essa postura de vitimismo.
Apesar de ser “confortável”, o lugar de vitimista tira do brasileiro a responsabilidade de ser autor de sua própria história, e talvez esteja aí a explicação para tanta coisa. Pois, o fato é que depois das 17h do dia 6 de outubro, cada um estará em sua casa, supostamente já terá cumprido o seu papel, e terá deixado de lado as suas obrigações de eleitor. Pronto para assumir o papel de vítima de seus governantes. Com o seu vício em transferir a sua responsabilidade para o outro, e apenas reclamar que nada está funcionando. Afinal, por aqui, se tem um papel que o povo desempenha bem é este: o de cobrar, muitas vezes sem saber até mesmo o que está cobrando, e nunca o de se interessar, de se inteirar. Transferir a responsabilidade é mais fácil!
