Já que estamos em época eleitoral, vamos continuar proseando sobre política. Já relatamos nesta nossa coluna que a filosofia, através de Sócrates (470 – 399 a.C.), deu seus primeiros passos discutindo o conceito de justiça e outras virtudes do ser humano. Depois vieram o seu aluno (Platão) e o aluno dele (Aristóteles). Além de detalhar estes temas, os dois reforçaram a necessidade da construção do bem comum, dando um forte conteúdo político à sua filosofia.
Assim a filosofia nasceu e se consolidou com características eminentemente sociais. A defesa destes princípios tem uma importância marcante no seu ideário. Neste sentido, para responder a pergunta do título, precisamos entender que justiça (tratamento igual para todos) e construção do bem comum (sociedade que garanta uma vida digna para todos) são questões de honra para a filosofia. E estes “todos”, que nos primórdios seriam os seres humanos, foi estendido para todos que habitam a mãe terra, assim que o debate ecológico tomou corpo. A filosofia aprendeu que não existe bem comum sem a preservação do planeta.
E então, “A filosofia é de direita ou de esquerda?”. Defender a justiça e o bem comum é uma bandeira da direita ou da esquerda? E pode ser de ambas? É a filosofia ou os filósofos que tomam partido? Penso que a resposta passa por aí.
Quando revemos a história notamos que a filosofia, através de seus pensadores mais expressivos, oscilou entre adotar conceitos mais conservadores ou mais progressistas. Sendo um saber que estuda o homem e as coisas ao seu entorno, ela é influenciada pelas forças que compõem a sociedade dos homens. Porém, é imperioso ressaltar que as questões da justiça e do bem comum sempre interferem neste dilema, independente de qual força é dominante.
Vejamos um exemplo representativo que ajuda a elucidar o que foi dito: a 2ª Guerra Mundial (1939 – 1945) e dois dos seus maiores expoentes (Hitler e Stalin).
A segunda metade do século XIX e a primeira metade do século XX foram marcadas pela disputa ferrenha entre direita e esquerda. Hitler (direita) e Stalin (esquerda) – se assim podemos simplificar – foram estudados por uma parcela considerável de memoráveis filósofos. Muitos até se enganaram inicialmente com o falso discurso destes tiranos. Mas, com a verdade vinda à tona, todos* se afastaram deles. Não existe nenhum filósofo respeitado que expressou apoio às atrocidades das ditaduras que infernizaram a Alemanha e a União Soviética.
Assim, existem filósofos de direita e de esquerda e cada qual irá apresentar suas alegações através de conceitos filosóficos que reproduzam a sua lógica. Nenhum deles irá dizer que não defende a justiça e o bem comum. Não agem como uma parcela considerável de nossos políticos que dizem defender a justiça e trabalhar pelo bem comum; mas, estranhamente, adoram dizer que a filosofia não serve para nada – é coisa de desocupado. Alegar isto é uma falsidade. Não há como desprezar a filosofia e, ao mesmo tempo, defender a justiça e o bem comum, pois, afinal, foi ela que os criou. A verdadeira filosofia é a verdadeira política que traz no seu sangue o DNA da justiça e do bem comum.
Mas partindo deste tipo de político é até natural esta intolerância com a filosofia. Como saber que busca respostas, faz questionamentos, apresenta críticas e se preocupa em expressar argumentos condizentes, a filosofia assombra os falsários. Para estes é melhor que impere a ignorância e o comodismo, pois assim continuarão o seu reinado. E é aí que mora o perigo!
Se você achou interessante, acompanhe a nossa coluna aqui no Jornal Agora. Sempre nas 3ª feiras, a cada 2 semanas. Na próxima edição o assunto será: A suspensão da Rede X.
* Talvez uma única dúvida persista sobre a posição do filósofo alemão Martin Heidegger.
Alberto Gigante Quadros
Médico / Pós graduado em Bioética pela Unesco
Graduando em Filosofia pela UFSJ
gigantequadros@gmail.com
