A Cultura da escravidão na era moderna

Continuando sobre esse delicado e doloroso tema, hoje vou falar da história e cultura da escravidão na era moderna. 

A escravidão na Era Moderna foi marcada pelo desenvolvimento de sistemas de escravidão altamente organizados e pela expansão do comércio transatlântico de escravos, que teve um impacto profundo em várias partes do mundo. Abaixo, apresento uma cronologia dos principais eventos e práticas relacionadas à escravidão durante a Era Moderna:

Séculos XV e XVI

-Início da Exploração Portuguesa (1441): Os portugueses foram os primeiros europeus a se engajarem no comércio de escravos africanos em grande escala. Em 1441, os primeiros africanos escravizados foram trazidos para Portugal, marcando o início do comércio de escravos entre a África e a Europa.

-Tratado de Tordesilhas (1494): O Tratado de Tordesilhas, assinado entre Portugal e Espanha, dividiu o Novo Mundo entre essas duas potências, impulsionando a colonização e a necessidade de mão de obra escrava nas Américas.

– Colonização Espanhola das Américas (1500s): Com a colonização das Américas, especialmente no Caribe, os espanhóis começaram a usar nativos americanos como mão de obra escrava nas plantações e nas minas. No entanto, devido à alta mortalidade dos indígenas, os espanhóis começaram a importar escravos africanos para substituir a força de trabalho nativa.

– Primeira Licença para Comércio de Escravos (1518): O rei Carlos I de Espanha concedeu a primeira licença oficial (asiento) para o transporte de escravos africanos para as Américas, estabelecendo uma base formal para o comércio transatlântico de escravos.

Século XVII

– Expansão do Comércio Transatlântico de Escravos: Durante o século XVII, o comércio de escravos se expandiu enormemente, com as potências coloniais europeias, incluindo Portugal, Espanha, Inglaterra, França e Holanda, estabelecendo redes comerciais que transportavam milhões de africanos para as Américas.

– Fundação das Companhias Comerciais: A fundação da Companhia Holandesa das Índias Ocidentais (1621) e da Companhia Real Africana britânica (1660) formalizou e ampliou o tráfico de escravos. Estas empresas controlavam o comércio de escravos e outras mercadorias entre a África, a Europa e as Américas.

– Código Noir (1685): Promulgado pelo rei Luís XIV da França, o Código Noir regulamentou a escravidão nas colônias francesas, estabelecendo os direitos dos escravos e as obrigações dos proprietários. Embora tenha incluído algumas proteções mínimas, o Código Noir legitimou a escravidão e perpetuou a exploração nas colônias francesas.

Século XVIII

– Pico do Comércio Transatlântico de Escravos: No século XVIII, o comércio transatlântico de escravos atingiu seu pico, com milhões de africanos sendo transportados para as Américas. A demanda por mão de obra nas plantações de açúcar, algodão, tabaco e outras culturas comerciais impulsionou o comércio.

– Revolução Haitiana (1791-1804): A Revolução Haitiana foi uma revolta de escravos na colônia francesa de Saint-Domingue (atual Haiti). Liderada por Toussaint Louverture, a revolta resultou na abolição da escravidão e na independência do Haiti, sendo o primeiro e único exemplo de uma revolta de escravos bem-sucedida que levou à criação de um estado livre.

– Movimentos Abolicionistas: No final do século XVIII, os movimentos abolicionistas começaram a ganhar força na Europa e na América do Norte. Figuras como William Wilberforce no Reino Unido e grupos religiosos como os Quakers desempenharam papéis importantes na campanha contra o comércio de escravos.

Século XIX

– Abolição do Comércio de Escravos (1807-1808): O Reino Unido aboliu o comércio transatlântico de escravos em 1807, seguido pelos Estados Unidos em 1808. Embora o comércio tenha sido proibido, a escravidão ainda persistiu em muitas colônias.

– Congresso de Viena (1815): O Congresso de Viena, que reorganizou a Europa após as Guerras Napoleônicas, incluiu compromissos para a abolição do comércio de escravos, embora a implementação tenha sido lenta e irregular.

– Abolição da Escravidão no Reino Unido (1833): O Parlamento britânico aprovou a Lei de Abolição da Escravidão, que emancipou os escravos nas colônias britânicas. A abolição foi seguida por um sistema de “aprendizado”, onde os ex-escravos continuavam a trabalhar por um período antes de serem totalmente livres.

– Abolição da Escravidão no Brasil (1888): O Brasil foi o último país das Américas a abolir formalmente a escravidão, com a assinatura da Lei Áurea pela Princesa Isabel em 1888. Essa abolição marcou o fim oficial da escravidão no continente americano.

A Era Moderna testemunhou a expansão e o auge da escravidão transatlântica, que teve consequências devastadoras para milhões de africanos e suas comunidades. No entanto, também foi o período em que surgiram os movimentos abolicionistas que, através de lutas intensas e prolongadas, conseguiram pôr fim à escravidão legalizada em muitos países. O legado desse período ainda é sentido nas sociedades contemporâneas, particularmente nas Américas e na África.

No entanto, a escravidão em outras formas ainda existe com exploração do trabalho análogo à escravidão, e este assunto trataremos na próxima coluna.

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Welber Tonhá e Silva 

Imortal da Academia Divinopolitana de Letras, cadeira nº 09

Imortal da Academia de Letras e Artes Luso-Suiça em Genebra, cadeira nº C186

Membro da Academia Mineira de Belas Artes

Historiador, escritor, pesquisador, fotógrafo e fazedor cultural.

Instagram: @welbertonha

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