Em 112 anos, Divinópolis elegeu apenas sete mulheres 

Ígor Borges

Em 25 legislaturas, Divinópolis elegeu apenas sete mulheres. Nos 112 anos de história da Câmara da cidade, as mulheres podem votar ou se candidatar em 92 deles, ou seja, desde 1934. Mesmo assim, o número de eleitas é muito baixo. 

No domingo, 83 candidatas buscam uma vaga no Legislativo. O cientista político, Antonio Faraco Jr., explica as dificuldades enfrentadas pelas mulheres durante suas candidaturas.

A reportagem relembra a conquista do direito ao voto  e candidatura das mulheres e também quais delas superaram o preconceito e se tornaram vereadoras por Divinópolis.

Direito ao voto

O direito ao voto e candidatura feminina foi decretado em 1932, durante o Governo Getúlio Vargas, pelo código eleitoral Provisório (Decreto 21076). No entanto, ele garantiu parcialmente os direitos, uma vez que permitia somente às mulheres casadas, com autorização dos maridos, e às viúvas e solteiras que tivessem renda própria, o exercício de um direito básico para o pleno exercício da cidadania. 

Somente em 1934, as restrições ao voto feminino foram eliminadas do Código Eleitoral, embora a obrigatoriedade do voto estivesse colocada como um dever masculino. Finalmente em 1946, a obrigatoriedade do voto foi estendida às mulheres.

Primeira mulher eleita

Apesar de que o voto das mulheres foi estabelecido, em nível nacional, há 02 anos, a professora Celina Guimarães Viana, de Mossoró, foi a primeira a conseguir o direito ao voto, em 1927. Além disso, Alzira Soriano foi eleita prefeita da cidade de Lajes em 1928.

Isso ocorreu porque o estado do Rio Grande do Norte foi o primeiro a estabelecer a não distinção de sexo para o exercício do voto, por meio da Lei Estadual 660, em 1927.

Desafios

Em toda história, apenas duas vereadoras ocuparam cargos na mesma Legislatura em  Divinópolis. Isso ocorreu, tanto em 1988, quanto em 2020. 

De acordo com o cientista político e sociólogo, Antonio Faraco Jr., a candidatura feminina por si só, é mais complexa.

— As mulheres enfrentam mais barreiras na política do que os homens. Tem uma tripla jornada. Ela é mãe, cuida da família, fora do trabalho. Enfim, ela tem mais responsabilidades, levando em consideração o padrão da nossa cultura — relatou.

Ele ainda citou as diferenças existentes, e justificou as dificuldades da mulher em montar uma candidatura eficiente. 

— Além disso, o ambiente partidário é um ambiente ainda muito masculinizado. Você pode ver que agora está melhorando, mas a quantidade de investimento normalmente feito em candidaturas masculinas é bem maior em relação às femininas — completou.

Vereadoras eleitas

  • Ivone Gomes Guimarães

A primeira vereadora eleita em Divinópolis foi Ivone Gomes Guimarães, em 1976, pelo partido da Aliança Renovadora Nacional (Arena), com 930 votos (2,35% do colégio eleitoral). Seu mandato durou seis anos. Em 1977, foi primeira-secretária da Mesa Diretora.  

  • Maria das Dores (Dorzinha)

Maria das Dores foi vereadora por três mandatos em Divinópolis. Eleita pelo Partido Socialista Brasileiro (PSB) em 1988, com 548 votos (0,70% do colégio eleitoral); em 1996, com 807 votos (0,75%), e 2000 com 816 votos (0,67%), destaca-se por ser a vereadora com mais mandatos. 

  • Eliana Ferreira (Piola)

Eliana foi eleita pelo Partido Trabalhista Brasileiro (PTB), em 1988, com 714 votos (0,90% do colégio eleitoral), e pelo Partido Democrático Trabalhista (PDT) em 2000, com 1.024 votos (0,83%). Em seu primeiro mandato, foi relatora do processo de elaboração da Lei Orgânica do Município (em 1989) e vice-presidente da Mesa Diretora (1992).

  • Heloísa Vieira Cerri

Heloísa foi eleita em 2008, pelo Partido Verde (PV) com 2.094 votos (1,41% do colégio eleitoral). A médica atuou por quatro anos como vereadora. Em 2018, ainda lançou sua candidatura para deputada federal, mas não foi eleita.

  • Janete Aparecida 

Eleita no pleito de 2016 pelo Partido Social Democrático (PSD) eleita com 1.778 votos. Filiou-se ao PR em 2011 candidatando-se a vereadora. Foi uma das mulheres mais votadas, com mil e cem votos, mas não foi eleita. Em 2016 mudou sua filiação para o PSD e obteve sucesso conquistando uma vaga nas eleições para o Legislativo.

  • Lohanna França

Lohanna Souza França foi eleita em 2020 pelo Cidadania. Ela é a candidata mais votada para assumir o cargo de vereador de toda a história de Divinópolis com 5.462, até as eleições de 2024. Lohanna teve um mandato de dois anos, até ser eleita deputada estadual pelo Partido Verde (PV) em 2022. 

  • Ana Paula do Quintino

A líder comunitária, Ana Paula do Quintino, foi eleita em 2020 pelo Partido Social Cristão (PSC), com 957 votos. Em 2023, a parlamentar de origem carioca se tornou a primeira mulher a ser líder do governo na Câmara Municipal. 

Eleições

Em 2024, além de uma candidatura à reeleição, outras 82 mulheres concorrem ao cargo de vereadora. Este número representa 35% das candidaturas em 2024. Quatro candidatas estão inaptas. 

As duas chapas que concorrem ao Executivo também têm mulheres. Laiz Soares (PSD) é cabeça de chapa, enquanto Janete Aparecida (Avante) é a candidata a vice de Gleidson Azevedo (Novo). 

Foto: Divulgação/CMD

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