CREPÚSCULO DA LEI – ANO VI – CCCII
A alegoria da caverna de Platão (“A República”, 380 a.C.) continua mostrando-se atual, justificando sua reputação de texto clássico.
Relembrando, ali encontram-se gentes aprisionadas, de costas para a saída, voltadas para o fundo iluminado (fogueira) da caverna onde são apresentadas sombras produzidas pelos administradores. Tais sombras são, para as gentes aprisionadas, a única realidade que elas vivenciam, portanto, entendem que aquilo se trata da representação da verdade que possuem.
As gentes do interior da caverna, além de desconhecerem a realidade externa, sequer sabem que são prisioneiras.
Segundo a narrativa do texto, quem consegue encontrar a saída, aquele que vai deparar-se com a outra realidade e voltar para libertar os demais das sombras, (seria) é o filósofo político.
(…)
A caverna atual é muito mais poderosa, e não produz apenas sombras. Produz falsas saídas, falsos políticos, até outras falsas cavernas portáteis, de tal sorte que os prisioneiros sequer sabem em qual caverna estão e, pior, sequer sabem quem são.
Eis o embargo da realidade do povo.
No mundo normativo, “povo” se compreende do pacto constitucional como sendo ente originário do poder, vale dizer, povo é o sujeito capaz de emanar poder para, em seu nome, ser exercido.
Nesse sentido, o poder emanado do povo para, em seu nome, ser exercido, chama-se “democracia”. Logo, não existe democracia sem povo.
Povo, consequentemente, não se confunde com gente. O povo deve ser preparado politicamente para governar para si. Qualquer conjunto social despreparado para governar não pode ser considerado “povo”.
Isto significa que o conjunto de indivíduos “acavernados” NÃO É POVO!
Manter um conjunto de indivíduos na caverna da ignorância para atribuir-lhes a difícil tarefa da democracia é pura “demagogia”, nunca democracia.
É ILEGÍTIMO qualquer governo que produza escravos da ignorância para falsear-lhes a concepção de povo, para levá-los às sombras da exploração, do abuso, da miséria e da fome, sem saibam que foram enganados.
Aristóteles, descrédulo desse tipo de “democracia”, já dizia que a corrupção é fruto da ignorância.
O que aconteceu nas últimas eleições?
A caverna.net atuou com êxito. Produziu ignorância, falsas realidades, mentiras, enganações, corrupção. Lamentavelmente, as consequências serão divididas até mesmo entre aqueles que tentaram intervir nas imagens falsas da caverna. Sem sucesso.
O que vai acontecer (ou continuar acontecendo)?
Serão produzidas imagens de uma saúde pública para os pobres, apenas imagens.
Serão produzidas imagens de uma educação de qualidade para os pobres, apenas imagens.
Não serão produzidas imagens, apenas realidade de pobreza se alastrando, estado policial violento e meio ambiente sendo destruído.
Este cenário tenebroso, apocalíptico, será acobertado por uma imagem ensolarada, praiana, lembrando Miami, com um Mickey vestido com a camisa da seleção brasileira. E todos ficarão olhando para ela, dando “vivas” à “democracia”, sentindo-se falsamente como se o povo realmente fosse.
