Ígor Borges
O corpo de Thallya Beatriz da Silva Pinto Satiro, de 4 anos, que morreu na Unidade de Pronto Atendimento (UPA), em Divinópolis, será exumado para perícia e averiguação da causa da morte. O juiz da Vara da Fazenda Pública e Autarquias, Marlúcio Teixeira de Carvalho, atendeu o pedido da família. A decisão é de sexta-feira, 18 e diz que a exumação deve ocorrer em até 30 dias após a publicação.
Em meio a isso, a UPA viveu um novo momento de superlotação. Em nota publicada pela Prefeitura na semana passada, a taxa de ocupação estava em 150%. Em números, 52 pacientes aguardavam transferência hospitalar. Para gestores da unidade, os números não são preocupantes.
Decisão
O pedido de exumação do corpo de Thallya foi feito pela família, para que fosse realizada a perícia para averiguação da morte, que ocorreu no dia 26 de abril deste ano. Na documentação, familiares disseram que a causa registrada em sua certidão de óbito foi crise convulsiva, mesmo que nenhuma convulsão tenha ocorrido.
O documento ainda diz que a família afirma que dois dias antes da morte, a criança foi atendida pela unidade de saúde e foi liberada após exames. A alegação ainda é que a morte está sob investigações para apuração de suposta falha na prestação do serviço público de saúde.
O juiz entendeu que o pedido da família é válido.
— Notadamente quanto à necessidade de produção da prova para a averiguação da causa mortis da filha dos requeridos, uma vez que os documentos disponibilizados não são claros e emergem dúvidas — relatou.
O magistrado ainda complementa que a exumação deve ser realizada com agilidade, pois com o passar do tempo, este tipo de exame fica mais difícil.
Uma perícia necroscópica também será realizada. As duas etapas devem ser feitas em até 30 dias depois da publicação da ordem judicial.
Relembre
Thallya morreu em abril deste ano em meio a crise na Saúde de Divinópolis. A Prefeitura realizou uma sindicância e disse que não houve erro médico. A família da menina contesta a versão.
No relatório, a sindicância da Secretaria de Saúde (Semusa) aponta não ter identificado conduta negligente da médica assistente. No entanto, pelo princípio da “boa-fé”, recomendou o encaminhamento do caso ao Conselho Regional de Medicina de Minas Gerais (CRM).
— Oportunamente, a Semusa reforça o compromisso com a transparência nos processos e manifesta o desejo de que a elucidação técnica e imparcial do ocorrido tranquilize não só as partes envolvidas, mas também toda a população de Divinópolis — ressaltou.
Cronologia
De acordo com a sindicância, “os profissionais médicos que atenderam a menor se valeram de todos os meios disponíveis naquela unidade para elucidação dos sintomas relatados.” No primeiro atendimento, realizado no dia 24 de abril, os exames de urina, sangue e RX não apontaram para nenhuma anormalidade.
— Merece destaque o fato de o registro de atendimento realizado na referida data demonstrar uma anamnese diligente e um exame físico bem criterioso. Ademais, a médica assistente orientou retorno em caso de intercorrências e encaminha a criança à Estratégia Saúde da Família para acompanhamento médico assistencial e para extensão de propedêutica — acrescentou.
Dois dias depois, a paciente voltou à unidade, onde sofreu uma parada cardiorrespiratória.
— (…) o que exigiu que toda equipe médica se desdobrasse nas manobras de ressuscitação, não foi possível realizar exames físicos e laboratoriais — informou.
Por fim, relatou que a médica solicitou a realização de necropsia para elucidação do caso, no entanto a Polícia Civil (PC) informou que o procedimento é realizado apenas em mortes violentas.
UPA
A unidade chegou a trocar de gestão desde então. Entretanto, recentemente viveu uma superlotação de pacientes que aguardam vaga hospitalar. A informação foi divulgada pela Prefeitura na semana passada.
Segundo informações do Executivo, a taxa de ocupação da unidade estava em 150% na semana passada. Ao todo, 52 pacientes aguardavam vaga para transferência hospitalar.
— A Prefeitura de Divinópolis já entrou em contato com o Governo do Estado informando sobre a atual situação e também acionou o Ministério Público — relata o Executivo.
A maior sobrecarga é no setor de observação adulto 1, que registra uma ocupação de 260%. Além dos pacientes já cadastrados no sistema SUSFácil, os pacientes que aguardam atendimento e que se encontram em observação podem demandar solicitação de internação hospitalar.
De acordo com o diretor técnico da UPA, médico Marco Antônio Expedito, mesmo com a alta ocupação, a assistência não foi prejudicada.
— A respeito do aumento do número de pacientes, do volume de pacientes admitidos e acolhidos, nós não percebemos que houve qualquer piora ou prejuízo na assistência médica na unidade — explica.
O secretário-executivo do consórcio responsável pela gestão da unidade, José Márcio Zanardi, reforça que o atendimento continua normal.
— Mesmo que haja uma superlotação, ninguém deve deixar de vir à unidade de pronto atendimento por causa desses motivos. Qualquer paciente em situação de emergência, nós vamos dar continuidade à assistência. Nossa obrigação aqui está sendo cumprida — afirma.
Ele ainda fala sobre o trabalho para transferência de pacientes.
— Fazemos contato com a Central de Regulação Estadual, que também regulou diversos pacientes para transferência inter hospitalar dentro do município ou fora dele, para que os pacientes tivessem a sua assistência adequada — completa.
