Ver para crer
Uma nova linhagem da Covid-19 que vem se espalhando pelo mundo foi detectada no Brasil. A mutação, chamada de XEC, é mais uma subvariante da Ômicron e foi identificada no Rio de Janeiro, São Paulo e Santa Catarina. A confirmação de mais uma variante do coronavírus vem de encontro ao momento em que o governo federal comete falhas na vacinação, e a população relaxa nos cuidados, e principalmente, na imunização. A sensação que se tem diante disso é que o povo quer “ver para crer” de novo. Especialistas alertam que, por enquanto, não há expectativa de que a variante venha a causar grandes problemas, contudo, quando se trata de covid, as coisas podem mudar a qualquer momento. Pode não parecer, mas uma hora dessas há quatro anos, havia pessoas morrendo a cada minuto Brasil afora por causa do coronavírus. Pode não parecer, mas uma hora dessas há quatro anos, a humanidade cumpria inúmeros protocolos de sobrevivência. Pode não parecer, mas uma hora dessas há quatro anos, o mundo orava para que fosse encontrada a cura para a covid-19, e que a vida pudesse voltar ao normal. Pode não parecer, mas uma hora dessas há quatro anos, a humanidade estava parada vivendo o seu pior pesadelo, sem poder fazer praticamente nada.
Foi preciso “ver para crer” que o que estava ruim poderia, sim, piorar. Por mais que tudo isso pareça distante, e apenas um pesadelo, foi tudo real. Hoje, quatro anos depois, mesmo com tudo aparentemente controlado, a covid-19 avança sem vacinação completa no Brasil; já são 5 mil mortes em 2024. Infectologistas veem a situação com preocupação, e alertam para o fato de que a doença “não deixou de acontecer” e que continua sendo a causa infecciosa que mais mata, ao lado da dengue. De um lado, falha do governo federal. Segundo a Sociedade Brasileira de Infectologia, o número de vacinas contra covid-19 compradas pelo governo neste ano não foi suficiente para abastecer os postos de saúde. Do outro lado, a desinformação e o relaxamento da população. O que impressiona é saber que mesmo tendo vivido todo o horror por três anos seguidos, o povo insiste em viver como se não tivesse a sua parte de responsabilidade neste cenário. E, é justamente nessas brechas, que o coronavírus encontra espaço, e segue fazendo mais vítimas. Com toda esta situação vem a pergunta: é preciso mesmo ver para crer? É preciso mesmo ver hospitais lotados, pessoas morrendo, para se proteger, para imunizar, e cobrar dos governos a vacinação? Será preciso voltar ao completo caos para se dar valor ao que tem-se hoje?
Por aqui nada impressiona. Afinal, o “jeitinho brasileiro” se faz presente do mais banal ao mais sério assunto. O povo parece gostar de “ver para crer”. Mesmo tendo em suas mãos a oportunidade de fazer diferente, a população parece se sentir bem em não ter qualquer tipo de respeito e responsabilidade quando o assunto é o coletivo. Uma pena, pois quem viveu o caos sabe exatamente o que é viver de protocolos, medos e angústias. Uma pena, o povo preferir “ver para crer”, quando tem a oportunidade de trilhar um caminho diferente.