Quando acessamos através da internet o Dicionário Priberam constatamos que ele trata estas palavras como sinônimas. Este não é o entendimento da filosofia, muito pelo contrário. Vamos por parte.
Necessidade é algo que independe de nossa vontade ou desejo. Imaginemos os seres vivos, por exemplo. Eles têm certas necessidades que são autônomas. Cito a respiração. Mesmo que estejamos empenhados fielmente em não respirar isso nunca irá ocorrer. Nossa intenção será desarmada em um determinado momento, quando nosso sistema nervoso central entender que o oxigênio do sangue está muito baixo e precisamos aumentá-lo. Autonomamente a respiração ocorrerá, mesmo que nosso desejo ou vontade não o queira, pois se trata de uma necessidade.
E o desejo? Quem o definiu como o meio do caminho entre o que somos e o que queremos foi brilhante, dirá um adepto de Platão. Trata-se de algum anseio que julgamos necessário possuir para contemplar a nossa satisfação. Pode ser algo material, sentimental, espiritual ou algum outro objetivo como fazer uma viagem, receber uma promoção, ganhar um benefício ou acertar os números da loteria. Talvez uma busca do bem e da perfeição. O leque é muito variado, por isso podemos definir o desejo como um instinto, algo que surge com o calor do momento e foge ao crivo da razão. Primeiro queremos e só depois nos preocupamos em analisar as causas e consequências.
O filósofo Baruch Espinosa (Holanda, 1632 – 1677), discorda desta gênese do desejo. Para ele, antes de ser algo pelo qual sentimos falta, “o desejo é uma força que se afirma de dentro, é a potência que constitui nossa própria essência. Não agimos por vontade, mas por desejo”. Lembrando Aristóteles, ele vai dizer que o desejo é a causa eficiente e é através dele que podemos crescer e se tornar mais potentes. Espinosa considera o desejo, a alegria e a tristeza os três afetos primários dos humanos.
A vontade, segundo Immanuel Kant (Alemanha, 1724 – 1804), é uma decisão pensada, resultante do uso da inteligência prática, que nos orienta a agir deste ou de outro modo, seguindo as nossas convicções. Primeiro pensamos, analisamos as causas e consequências e só depois queremos. Por isto, para ele, a boa vontade tem senso de dever, é a expressão de nossa liberdade de escolha e exige renúncias. Diz ele “a boa vontade não é boa por aquilo que promove ou realiza, pela aptidão para alcançar qualquer finalidade proposta, mas tão somente pelo querer”. Kant segue no mesmo caminho de Santo Agostinho e lembra que a boa vontade é fruto de uma escolha moralmente correta e serve para colocar freios nos desejos desenfreados que frequentemente assaltam a nossa mente.
Reafirmando Kant, será que a boa vontade não é boa por aquilo que promove ou realiza, mas porque reafirma a prática do bem? Ou será que os fins justificam os meios e podemos sair da linha quando julgamos ser o resultado correto? Ou é melhor seguir a teoria do Gerson e que se dane o mundo?
Alguns poderão dizer que tudo isso são detalhes inúteis para a nossa vida. Perder tempo com isto num mundo como o de hoje é bobagem. Porém, no próximo artigo vamos comentar porque o travesseiro é um bom conselheiro.
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Alberto Gigante Quadros
Médico / pós-graduado em Bioética pela Unesco
Graduando em Filosofia pela UFSJ