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Filosofia e religião

É possível pensar a filosofia sem a presença do sagrado (ou da religião)?

by JORNAL AGORA

No nosso artigo de 05/03/24 argumentamos que uma das causas do surgimento da filosofia foi a descrença da inteligência grega do século VI a.C com as explicações e atitudes passionais das divindades do Olimpo, acerca dos fenômenos da natureza e o ordenamento social (mitologia x razão). Neste sentido, a gênese da filosofia registra um embate com os deuses e deusas da Grécia antiga.

Desta forma, é pertinente descrever como era a crença religiosa daqueles que criaram a filosofia. Será que é possível fazer alguma comparação com o cristianismo – religião marcadamente majoritária entre os brasileiros?

No contexto do surgimento da filosofia, buscava-se uma explicação racional para a origem do universo e interrogava-se a necessidade ou não de um ser divino para isto. No livro “Timeu”, Platão descreve que deus toma (e não gera) aquilo que já era visível por natureza. Temos uma divindade imanente (chamada demiurgo) que age em um universo já estabelecido, porém caótico, buscando torná-lo bom e belo. Neste sentido, este deus também está sujeito às mesmas regras do universo já posto. 

Não se trata de um deus todo poderoso (onipotente), sobrenatural, identificado por atitudes amoroso-caridosas e adorado pelos que o seguem. Demiurgo é uma divindade impessoal (sua ação principal não está voltada para os humanos); é visto como uma “inteligência ou pensamento cósmico”, que tem como maior missão tentar ordenar o universo já criado. Sendo uma inteligência ou pensamento, o relacionamento com este deus se dá no campo da racionalidade.

É fácil notar que o deus da era clássica não carrega similaridade como aquele descrito na Bíblia. O Deus do Novo Testamento não é parte de um universo já posto. Pelo contrário, ele é o responsável pela sua criação e o governa de uma instância superior. Ele não é imanente (inerente a realidade), mas transcendente (sobrenatural) e também onipotente. Antes dele nada existia.

Após criar o universo, ele molda o homem e a mulher, tornando-os as criaturas de sua preferência e oferecendo-lhes o paraíso. E, mesmo sendo traído, ele se encarrega de cuidar para que todos possam buscar a salvação. O relacionamento com este deus é pessoal, pois trata a todos como iguais e os chama de filhos. Ele espalha um amor universal e pede que uns cuidem dos outros, com um carinho especial pelos mais necessitados. É um deus de amor e caridade que rejeita todas as hierarquias entre os homens e destes com as mulheres. Aí está a grande diferença do cristianismo com as religiões que a antecederam.

O demiurgo de Platão exige dos crentes uma atitude racional para compreendê-lo. Cristo pede confiança e oferece a salvação: “Livrarei aquele que me ama, protegerei o que confia em meu nome. Quando clamar por mim, eu responderei e estarei com ele em meio às dificuldades; eu o resgatarei e lhe darei honra. Com vida longa o recompensarei e lhe darei minha salvação” – Salmos 91:14-16.

Neste sentido, o cristianismo consegue oferecer a mais convincente resposta à maior angústia do ser humano, a finitude, o medo de morrer. Assim descreve o filósofo Luc Ferry: (…) Como você vai ver, não se trata de um amor qualquer; trata-se do que os filósofos cristãos vão chamar de “amor em Deus”… essa forma de amor vai não apenas se distinguir das outras, mas também permitir alcançar a salvação – quer dizer, ultrapassar o medo da morte e, se possível, a própria morte. 1

Se você achou interessante, acompanhe a nossa coluna aqui no Jornal Agora. Sempre nas 3ª feiras, a cada 2 semanas. Na próxima edição o assunto será: A idade média e a filosofia cristã.

1. Luc Ferry. Aprendendo a viver. Editora Objetiva. Rio de Janeiro. 2010. Pág. 81

Alberto Gigante Quadros

  Médico / pós-graduado em Bioética pela Unesco

Graduando em Filosofia pela UFSJ   

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