A idade média é o período compreendido entre os anos de 476 (queda do império romano do ocidente) e 1453 (queda do império romano do oriente). Tanto a cronologia como a denominação tem origem entre os filósofos renascentistas (século XIV), com a intenção de demarcar os séculos nos quais a igreja católica desempenhou um grande poder em todos os setores do mundo ocidental.
No século XIII, nasceu Tomás de Aquino (São Tomás de Aquino para a igreja católica) e já existia no ocidente certo embate entre a fé e a ciência. Os dogmas da igreja já não reinavam absolutos, pois muitos julgavam estar na razão – e não em Deus – a causa da verdade suprema.
Tomás de Aquino (1225 a 1274) foi discípulo de Aristóteles, o filósofo grego que criou a lógica e definiu a ciência como o saber que contem um raciocínio exato e apurado; a ponto de não permitir questionamento. Homem de uma inteligência superior e argumentos robustos, Tomás de Aquino foi categórico e desenvolveu uma teoria para demonstrar que não havia contradição entre a fé e a razão, usando o raciocínio lógico criado por Aristóteles.1
Em suma, Tomás de Aquino concluiu que mesmo os racionalistas – aqueles apaixonados pela ciência – usavam da fé, aceitando os pormenores responsáveis pelos avanços científicos. Ele argumentou que os críticos dos dogmas da igreja, também eram dogmáticos ao preferirem a razão e a ciência. Quando questionados a demonstrar toda a lógica contida na ciência, acabavam justificando seus resultados, sem saber por que eles aconteciam. Afinal, estavam demonstrando fé na ciência, porém sem saber explicar como ela ocorria. Por isso a fé é importante, foi a conclusão do filósofo.
Continuando o seu raciocínio, vai dizer que filosofia (ciência) e religião (fé) andam juntas, não são excludentes. Segundo ele, a filosofia procura demonstrar as verdades naturais, as coisas que pertencem a este mundo. A religião procura demonstrar quais verdades levam à salvação, que se encontra em outro “mundo”. Esta afirmação de Tomás de Aquino suscitou para muitos o seguinte raciocínio: então a religião e a filosofia são diferentes e autônomas. Tirar tal conclusão através do raciocínio do filósofo – considerado naquele momento a maior autoridade intelectual da igreja – era muito “perigoso”. Afinal, o ocidente vivia um período onde a igreja ditava as regras de conduta, considerava a filosofia um mero ramo da teologia e exercia uma forte censura contra qualquer opositor. Tal suposição esquentou os questionamentos já existentes contra o catolicismo, que culminariam na Reforma Protestante de 1517.
Importante lembrar que a igreja censurou os livros de Aristóteles, proibindo a sua leitura em todo o mundo cristão. O grande filósofo grego só não foi banido da história porque as suas obras foram levadas para o mundo árabe e séculos depois reintroduzidas na Europa ocidental. Existe um lindo filme retratando este assunto, que se chama “O nome da rosa”, extraído do livro de Umberto Eco.
E você o que pensa disto tudo? Filosofia e religião são excludentes? A filosofia é um ramo da teologia ou um saber autônomo? Se você achou interessante, acompanhe a nossa coluna aqui no Jornal Agora. Sempre nas 3ª feiras, a cada 2 semanas. Na próxima edição o assunto será: E se Deus não existir?
1.Questões disputadas sobre a verdade, Tomás de Aquino. Editora Ecclesiae. 1ª Edição/2023.
Alberto Gigante Quadros
Médico / Pós graduado em Bioética pela UNESCO
Graduando em Filosofia pela UFSJ
