…as eleições terem passado, os números nas urnas ainda impressionam, e seguem mostrando um cenário interessante. Enquanto os olhares se voltaram para os eleitos, e para os não eleitos com grande número de votos, algo estava ao lado disso tudo esperando apenas a poeira baixar para ser analisado, e visto até mesmo com certa preocupação. Esquecidos bem abaixo dos eleitos, os candidatos que serviram até mesmo para que a população fizesse chacota, receberam até uma votação expressiva, perante a importância e a magnitude que é uma eleição para Câmara e Prefeitura. A situação mostra várias camadas, e talvez a principal delas seja o quanto parte do eleitorado ainda prefere levar as eleições na brincadeira. Para exemplificar o cenário, não é preciso de muito. Nesta semana, logo após o fim das eleições, circulou pelo WhatsApp áudios de um candidato a vereador de Divinópolis derrotado nas urnas, usando palavras de baixo calão, para expressar a sua revolta por não ter sido eleito para o Legislativo. Por incrível que pareça, esse mesmo candidato recebeu 368 votos. O número de votos que ele recebeu assusta. A situação, claro, rendeu boas risadas de quem ouviu os áudios.
O cenário não é exclusivo de Divinópolis. A situação acontece Brasil afora e é impossível não se assustar. Apesar das constantes orientações, conscientização e pedidos para que os eleitores votem com consciência, e saibam a importância do seu voto, parte do eleitorado insiste em seguir com um comportamento infantil e inadequado; o oposto do que o país precisa. Um candidato que é visivelmente despreparado para assumir um cargo de tamanha importância, e tantos outros por aí, receberem votações até mesmo expressivas diante os seus comportamentos é preocupante. Alguns até tentam justificar dizendo ser “voto de protesto”, e que estão “cansados de política”. Porém, ao fazerem isso se esquecem de algo extremamente importante: tudo é feito de política. Sim! Não é apenas o atendimento na UPA, a vaga na escola, ou o asfalto na porta de casa. O exame que demora, o transporte público que é insuficiente, a falta de água em casa, as enchentes de fim de ano, a epidemia anual de dengue, a vacinação, entre outras situações que são consideradas rotineiras, absolutamente tudo é política. Apesar de muita gente ainda ter se tornado consciente da importância de tratar o assunto com seriedade, é mais do que primordial que a população acorde e veja o quanto esses chamados “votos de protesto” são perigosos.
Ao olhar o número de votos que candidatos totalmente despreparados receberam é desolador ver que parte do eleitorado prefere jogar no lixo sua responsabilidade e a oportunidade de realmente fazer a diferença. Só aumenta a certeza de que o Brasil ainda tem muito o que evoluir. Mas, não apenas nas questões políticas e de políticas públicas, é principalmente em sua população. Como se fosse um trabalho de dentro para fora. Pois, apesar das oportunidades, alguns ainda preferem desperdiçá-las.
