Ricardo Welbert
Após a reunião ordinária desta terça-feira, 19, o presidente da Câmara de Divinópolis, Adair Otaviano, do PMDB, disse que ainda não tinha recebido carta parecida com a de mostrada por Delano, com ameaça para que passe a votar sempre a favor do governo, sob risco de ser expulso da sigla.
— Não chegou às minhas mãos. Se tiver chegado ao meu gabinete enquanto eu estou aqui [no plenário], ainda não tenho conhecimento — disse ele na coletiva.
Porém, poucas horas mais tarde a reportagem do Agora fez contato com Otaviano e ele confirmou que recebeu a carta após a entrevista coletiva que concedeu.
“Se”
Edson Sousa, que também é do PMDB e recentemente manifestou interesse em sair do partido, não disse na tribuna se também havia recebido a carta do partido. Porém, logo após o fim da sessão ele foi perguntado por jornalistas se já tinha recebido.
— Estou sabendo através de vocês da imprensa que o Delano foi notificado. Eu não recebi nem carta e nem cartão de Natal — disse o vereador, que estava no plenário quando Delano leu a carta do PMDB na tribuna.
A repórter Amanda Quintiliano, do “Portal Centro-Oeste”, perguntou a Edson como ele reagiria se recebesse a mesma recomendação.
— Eu não trabalho com preposição. Não é “se”. Vocês gostam de um motivo pra me provocar, não é isso? — disse o vereador.
— É uma pergunta e a resposta é simples: é só responder “sim” ou “não” — rebateu a jornalista.
— Te dou em primeira mão então. Se me mandar, eu recuso. Entre o partido e a minha consciência, eu fico com a consciência. Ser expulso do partido é a pior coisa que tem nesse momento. O partido precisaria me convocar com 15 dias de antecedência e me dar o direito de me defender — respondeu.
Contradição
Após essa declaração de Edson, o Agora perguntou a Dr. Delano se ele foi o único peemedebista a receber a ameaça partidária. Ele afirmou que Adair Otaviano não receberia, por ser o presidente e votar apenas em caso de desempate – porém, recebeu.
Delano afirmou que o colega Edson Sousa recebeu sim a carta, junto com ele. Perguntado novamente por telefone, Edson questionou a veracidade da carta.
— Quem assina essa carta? Ele tem o papel timbrado do PMDB? Cadê a ata da reunião que decidiu a elaboração desta carta? — perguntou o vereador à reportagem.
Teor da carta
O presidente do diretório do partido, Fausto Barros, pede na carta que os vereadores votem “em conformidade com o Executivo municipal todos os projetos que aportarem nesta Casa [na Câmara] a partir desta data [18 de dezembro]”.
— Para tanto, vem também levar ao vosso conhecimento que estas recomendações estão embasadas no Capítulo 3, dos Direitos e Deveres e da Disciplina Partidária contidas no Estatuto do PMDB — diz o texto.
De acordo com o artigo 9º do tal estatuto, são deveres do filiado defender o programa partidário. O tópico seguinte prega que os membros e filiados, mediante apuração em processo em que lhes seja assegurada ampla defesa, ficarão sujeitos a medidas disciplinares, quando considerados responsáveis por:
- […] desrespeito à orientação política fixada.
- Desobediência às deliberações regularmente tomadas em questões consideradas fundamentais [como, por exemplo, a aprovação do aumento do IPTU], inclusive pela bancada a que pertencer o ocupante do cargo legislativo.
- Atividade política contrária ao regime democrático [o que chega a ser irônico, pois o voto livre é uma característica importante da democracia] ou aos interesses do partido [a aprovação do reajuste do IPTU é, por óbvio, do interesse do partido].
- Falta de exação [o mesmo que “exatidão”] no cumprimento dos deveres atinentes às funções partidárias.
— No aguardo de vossa costumeira e valiosa atenção, reiteramos aqui os nossos votos de elevada estima e consideração — conclui o diretório do PMDB na carta.
Se forem expulsos do partido, os vereadores perderão o direito a pronunciamento nas reuniões ordinárias.
‘Presente de grego’
— Venho dizendo há um tempão que não existe qualquer razoabilidade de votar favorável ao aumento do IPTU. Por isso é que recebi esse presente de grego — disse Delano, referindo-se ao cavalo de madeira dado pelos gregos aos troianos durante a Guerra de Tróia. Os troianos levaram o cavalo para dentro de seus muros acreditando que o presente simbolizava a rendição dos gregos. Na verdade, o cavalo estava cheio de soldados. Durante a noite, após os troianos terem se embebedado e a maioria já estar dormindo, os gregos saíram do cavalo e abriram os portões para que todo seu exército entrasse e destruísse a cidade completamente.
Eleito com 2.653 votos e portanto líder do PMDB na cidade, Delano afirma que vai buscar recurso judicial contra a ordem a ameaça que recebeu.
— Deve caber recurso. Se tiver brecha legal, com certeza vou usar. É para isso que a Câmara tem procuradoria — desabafou o vereador durante pronunciamento.
— Sou totalmente contra o aumento do IPTU. A meu ver, quem tem que pagar mais imposto são os ricos. Pobre não deveria nem pagar. Agora: se os advogados da Câmara me disserem que não tem jeito e que eu vou perder meu mandato se não votar como o partido quer, vou me ver obrigado a votar favorável. Mas todos já estão sabendo que terá sido contra a minha vontade — acrescentou Delano.
Outro lado
O Agora tentou contato por telefone com Fausto Barros, presidente do diretório do PMDB, mas não conseguiu.
Leia a íntegra da carta a Delano