Ricardo Welbert
A reunião da Câmara de Divinópolis nesta quinta-feira, 22, quase virou caso de polícia. Representantes do Sindicato das Indústrias do Vestuário de Divinópolis (Sinvesd) e do Sindicato dos Corretores de Imóveis de Minas Gerais (Sindimóveis-MG) que compareceram ao plenário para pressionar os vereadores contra o aumento do Imposto Predial e Territorial Urbano (IPTU) atacaram verbalmente o vereador Ademir Silva (PSD), favorável ao reajuste, que falou deles durante pronunciamento na tribuna.
— Empresários em Divinópolis fazem especulação imobiliária, pagando uma ninharia de imposto. Fica esse povo pressionando os vereadores a votar contra. Ano que vem, quem vai socorrer a UPA [Unidade de Pronto Atendimento]? Será que esses empresários irresponsáveis vão ligar aqui e dar sua contribuição? Ninguém vai dar sua contribuição se não sair do dinheiro do governo — disse.
O rebuliço começou quando os vereadores discutiam sobre um pedido de veto total do governo a um projeto de lei da vereadora Janete Aparecida (PSD) que determina normas para a cavalgada de 1º de Junho. O vereador Eduardo Print Júnior (SDD) dava sua opinião quando Ademir começou a ser hostilizado verbalmente.
Pela gravação da TV Câmara é possível ver o delegado regional do Sindimóveis-MG, Marcos Vinícius Batista, de pé perto da grade que separa a plateia dos vereadores.
— Você é um irresponsável. Um irresponsável! Você dobra a sua língua para falar do empresariado divinopolitano, porque nós é que estamos sustentando essa cidade — disse o representante da entidade de classe, agitando o braço e apontando o dedo em direção a Ademir.
Ao perceber a situação, o presidente Adair Otaviano (PMDB) chamou a segurança.
— Como é que é? Vai tirar? — gritou Marcos Vinícius, agora apontando o dedo em direção ao presidente.
Assista ao trecho do discurso de Ademir e à íntegra do bate-boca
Reação
Ao ver um dos seguranças já posicionado diante dos manifestantes, Edson Sousa (PMDB) pulou da cadeira e correu para interferir no bloqueio da manifestação. A atitude irritou o presidente.
— Vereador Edson Sousa, não cometa quebra de decoro, porque o cidadão está agredindo o seu colega e você o está defendendo — disse Adair.
— Eu não estou defendendo, não. Eu estou defendendo é a paz — respondeu Edson.
— Está defendendo sim, vereador. Você está defendendo. Seu amigo Ademir está sendo execrado aqui pelo cidadão e você está do lado dele, vereador. Eu não vi o vereador Ademir agredir ninguém aqui. Ele foi agredido. Eu estou pedindo segurança para o vereador Ademir — gritou Adair.
— Eu estou pedindo mais do que segurança. Eu estou pedindo é paz — retrucou Edson.
Engasgado com a intervenção, o presidente explicou como funcionam as regras de conduta.
— Eu quero dizer o seguinte: o que eu fiz aqui foi para resguardar a segurança do vereador Ademir, como eu faria ao senhor também. Essa é uma Casa. Um parlamento no qual as pessoas precisam ter respeito com o parlamentar. Você viu o cidadão faltando com respeito ao seu colega. Se eu não pedir segurança para proteger o vereador, que presidente que eu sou? — questionou Adair.
Na plateia, algumas vozes gritaram que o representante de sindicato não havia agredido Ademir.
— Agrediu com palavras e ameaçou o vereador. Ameaçou, que nós não somos bobos — gritou o presidente.
— Você não tem educação! — gritaram da plateia para Adair.
— Ameaçou o vereador e nós não vamos aceitar ameaça aqui. Se for preciso, eu vou chamar é a polícia — afirmou o presidente, que em seguida foi vaiado pelo grupo de representantes do empresariado.
Assista, por outro ângulo, ao momento em que os ânimos se acirram e a segurança é chamada
Tentativa de interrupção
Kaboja (PSL) sugeriu que todos saíssem e a reunião fosse encerrada.
— Encerrar não, sô. O cara agrediu o colega nosso aqui, sô. Não, uai. Não vamos aceitar isso não — esbravejou o presidente.
— O vereador foi ameaçado, uai — concordou Josafá (PPS).
— Vou deixar claro: eu não vou aceitar que nenhum cidadão chegue aqui e agrida qualquer vereador. Se for preciso chamar a polícia, vou chamar. Porque eu, como cidadão de bem, não saio agredindo nenhum cidadão na rua. Por que é que vereador tem de ser agredido aqui dentro? Nós não vamos à CDL [Câmara de Dirigentes Lojistas] agredir ninguém. Nós não vamos à Fiemg [Federação das Indústrias do Estado de Minas Gerais]. Nós não vamos ao Sinduscon [Sindicato da Construção Civil]. Por que eles se sentem no direito de agredir os vereadores? — reclamou Adair, determinando em seguida que os vereadores continuassem a discutir sobre o projeto.
Eduardo Print Júnior continuou a explicação que havia sido interrompida. Porém, alguns colegas dele e grande parte do público ainda estavam ouriçados pelo calor dos acontecimentos.
— Se os vereadores não estiverem prestando atenção no projeto, eu vou pedir a vossa excelência que encerre a reunião. Porque não está dando. Eu estou falando aqui e os vereadores estão prestando atenção em outras coisas, uai. Tô falando sobre o veto e não tem ninguém prestando atenção. Peço aos nobres colegas que votem contrários ao veto do projeto — disse Print.
Comigo, não
A reunião seguiu. Ao defender a decisão de tirar a assinatura do pedido de votação da Lei Orçamentária Anual (LOA), Roger Viegas (Pros) comentou as agressões verbais direcionadas a Ademir.
— Eu não tenho medo de ninguém. Muito menos sou capacho de qualquer pessoa aqui. Não admito que agrida a honra desse vereador e de qualquer outro. Muito menos nêgo que vem encher o saco e agredir vereador. Pra cima de mim, não. Comigo não teve coragem. Foi lá ao Ademir. Se fizer, nós vamos sair lá na rua, sim. Não tenho medo de ninguém — disse Roger.
Palavras finais
Após as discussões e votações de projetos e após os manifestantes tem ido embora, o presidente voltou a defender a postura que adotou diante do tumulto.
— Antes de encerrar essa sessão, eu gostaria de justificar aqui aos cidadãos divinopolitanos o que aconteceu aqui na tarde de hoje. Algumas pessoas que estavam aqui presentes na nossa sessão começaram a ser desrespeitosas com o vereador Ademir e eu pedi aos seguranças pra se aproximarem para fazer a defesa do vereador. Não pedi aqui que colocasse qualquer pessoa para fora, mas solicitei proteção à integridade física do Ademir. E faria isso para qualquer outro vereador — finalizou Adair Otaviano.